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HISTÓRIA PDF Imprimir E-mail

A HISTÓRIA DA

EDITORA OGMIOS

(SEACULUM OBSCURUM) / GRAVADORA

ARTE DEGENERADA

 

 

 

PARTE I

(PERÍODO: 1966-2005)

 

 

Marco Alexandre da Costa Rosário

 

 

 

* Texto escrito em maio/junho de 2005 para o website www.seaculumobscurum.com

 

 

 

 

 

EDITORA OGMIOS

(SEACULUM OBSCURUM)

GRAVADORA ARTE DEGENERADA

 

 

 

TRINTA ANOS

(1984 – 2014)

 

 

 

10 ANOS DO WEBSITE www.seaculumobscurum.com

(2005/2015)

 

 

 

WEBSITES/FACEBOOK/BLOGSPOT/WIKIPEDIA:

 

www.seaculumobscurum.com

 

www.seaculumobscurum.net

 

Ogmios/Seaculum Obscurum - Facebook

 

Ogmios/Seaculum.blogspot.com.br

 

 

 

 

 

 

Tudo o que é esquecido

permanece em sonhos obscuros do passado...

ameaçando sempre retornar.

(do filme Velvet Goldmine)

 

 

 

 

 

 

 

 

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM) E A GRAVADORA ARTE DEGENERADA (1966/2005).

Por Marco Alexandre Rosário (escrito entre maio e junho de 2005).

 

Eis o que todos nós somos: amadores. Não vivemos o tempo suficiente para sermos outra coisa. Que triste é ser engraçado”.

(Charles Chaplin)

 

AS ORIGENS (1966-1980).

 

Eu vou iniciar este texto falando das origens desta história. Eu nasci na Cidade de Belém, Estado do Pará, no leste da Amazônia Brasileira, em 07 de fevereiro de 1966, e morei em Belém, desde 1969, na mesma casa e na mesma rua até fevereiro de 2003, quando então eu passei a residir no Município de Santarém, no interior no Estado do Pará. Meus pais se separaram em 1969 e eu fui morar na casa dos meus avós, pais do meu pai, na casa que meu avô construiu na Travessa do Chaco, na década de 1950, e que tem o número 2623. Eu creio que as origens da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) e da Gravadora Arte Degenerada, o projeto artístico que eu criei e que teve início em 1984, encontram-se em 1970 quando eu ganhei um livro de estória infantil (acompanhado de um pequeno disco) sobre os quatro músicos de Bremen, um dos contos de fadas catalogados pelos irmãos Grimm, na Alemanha, durante o século XIX. Eu fiquei fascinado pela estória do burro, do cão, do gato e do galo. Eu tive o pequeno disco com a estória dos quatro músicos até 1989.

 

Antes desse fato acontecer, eu andava perturbando, aos 2 ou 3 anos de idade, um famoso grupo de rock de Belém, que costumava ensaiar no cruzamento da Travessa do Chaco com a Avenida 1º de Dezembro (na época, nenhuma destas ruas eram asfaltadas): “Os Gênios”, este era o nome do grupo. Certa vez, por volta de 1981 ou 1982, eu não lembro muito bem o ano, eu estava no Bar Celeste, que ficava na Travessa Curuzu, que é paralela à Travessa do Chaco, e eu estava no balcão do bar quando um homem bem mais velho do que eu olhou para mim e perguntou se eu era neto do Sr. Dário Rosário. Eu disse que sim, e ele se voltou para o dono do bar, que estava do outro lado do balcão, e disse: “Rollo, esse aqui é o Marquinho”. O homem que falou comigo se chamava Zé Maria e era o baterista do grupo e o outro homem, Rollo, era um dos guitarristas do grupo. Eles disseram para mim que por volta de 1968 ou 1969, eu ficava assistindo aos ensaios do grupo; na verdade, eu ficava mexendo nos instrumentos musicais e perturbava os ensaios da banda.

 

A primeira vez em que eu comecei a ouvir música, pelo menos de forma consciente, foi com o álbum Cosmo’s Factory, do grupo norte-americano Creedence Clearwater Revival, em 1973. Este álbum foi lançado em 1970. Um dos meus tios comprou este disco. Junto com o Creedence, eu também comecei a gostar do grupo norte-americano The Monkees. Também nesta época eu comecei a ouvir o grupo brasileiro Secos & Molhados, o primeiro álbum, que eu simplesmente adorava. Eu ouvia muitas músicas pelo rádio também, mas eu não sabia de quem eram aquelas composições. Eu lembro de ter ouvido músicas como “Rock Around The Clock”, com Bill Haley, e outras músicas de Elvis, The Byrds e outros grupos norte-americanos. Eu lembro também de músicas de compositores brasileiros, como Adoniran Barbosa, Cartola, Roberto Carlos, Jorge Bem, Chico Buarque, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e muitos outros. Eu ouvia também, ou pelo rádio, ou pela televisão, ou por comentários de pessoas próximas, referências aos nomes Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Beatles, Rolling Stones, Woodstock, etc.

 

No 12 de outubro de 1974 exibiram um filme na televisão de um grupo de músicos ingleses que eu não conhecia muito bem, embora já tivesse ouvido falar. O nome do filme era Yellow Submarine (Submarino Amarelo) e era um filme do grupo inglês The Beatles. Eu não entendi a estória do filme e também não gostei do grupo.

 

Uns meses depois, eu atravessei a rua e fui até a casa de um amigo, chamado Denis, irmão de outro amigo, Paulo. Na época, eu, Denis, o Paulo e o Beto, outro amigo que também morava na vizinhança, sempre andávamos juntos. Atravessar a rua, naquela época, era como atravessar o Atlântico. Quando eu cheguei na casa do Denis, ele colocou um álbum dos Beatles para tocar. Eu disse a ele que eu havia visto o filme Submarino Amarelo e não tinha gostado da música do grupo. Então, Denis colocou o disco para tocar. Eu lembro exatamente da emoção que eu senti quando eu ouvi os primeiros acordes da guitarra: fiquei estarrecido, maravilhado, achei simplesmente inacreditável!!! Aquela música era mágica, fantástica. A música era Drive My Car e o álbum se chamava Rubber Soul, lançado em dezembro de 1965, poucos meses antes de eu nascer. Portanto, eu estava ouvindo aquele álbum 10 anos depois do seu lançamento. Eu memorizei todas as músicas daquele álbum. Dali em diante, todas as vezes em que eu ia até a casa do Denis e do Paulo, eu sempre pedia para ouvir aquele álbum. Era um disco mono, lançado no Brasil, em 1966.

 

O mais interessante era a capa daquele álbum. Eu não sabia quem eram aquelas pessoas que apareciam nas fotografias do disco, mas eu achei que aquele homem que está olhando diretamente para você na capa do álbum era o John Lennon, e realmente era ele. Eu fiquei apaixonado pela aquela figura, pelo grupo e pelas músicas. A mais bela música dos Beatles, para mim, é “It’s All Too Much”, de George Harrison, e que está inserida no álbum Submarino Amarelo.

 

Todos esses grupos que eu gostava e que mencionei acima eram formados por quatro pessoas. Vinha sempre a lembrança da estória dos Quatro Músicos de Bremen na minha mente. Essa estória parece ter um certo misticismo, um certo mistério encantador.

 

Eu fui realmente iluminado pela música dos Beatles e por muito tempo eu só ouvi aquelas músicas. A partir daí, eu só queria ganhar como presente de natal ou de aniversário os álbuns do grupo. Naquela época (1975-1976), eu também comecei a ter contato com as músicas e a história de Elvis Presley, mas os Beatles eram realmente a minha paranóia. Também naquela época, eu comecei a gostar de música erudita (Beethoven, Bach, Schubert, Vivaldi, Tchaikovsky e outros compositores clássicos). Por volta de 1978, eu conheci a música de dois outros grandes grupos ingleses: Led Zeppelin (álbum: The Song Remains the Same), e Pink Floyd (álbum: The Animals), mas muito esporadicamente. Também conheci por essa época o trabalho de outro músico/poeta que iria exercer uma grande influência em minha vida: Bob Dylan (álbum: Hard Rain). Talvez não exista outro poeta que tenha influenciado tanto a minha poesia como Dylan.

 

Em 1980, embora eu já tivesse adquirido quase toda a coleção de álbuns dos Beatles, eu não conhecia muito bem a história deles. Era difícil encontrar revistas que falassem sobre eles na época. Isso mudou no dia em que John Lennon foi assassinado. Eu lembro que uma semana antes do assassinato, um amigo chamado Talis chegou comigo e disse que John Lennon tinha sido assassinado. Era uma brincadeira. Uma semana depois, John Lennon foi realmente assassinado. Mais uma vez foi o Talis que me deu a notícia, desta vez verdadeira.

 

Ao longo dos anos de 1979 e 1980 eu fui conhecendo outros grupos, como o AC/DC, Kiss, Deep Purple, e outros mais. Era a continuação de uma pesquisa que até hoje não parou. Eu conheci muitos desses grupos através de um amigo: Haroldo Pamplona. Haroldo era um cara rebelde. Na década de 1980 ele foi para a Europa, participou da queda do Muro de Berlin, e acabou sendo preso e deportado para o Brasil.

 

 

OS "LESOS & LOUCOS” E AS PRIMEIRAS COMPOSIÇÕES MUSICAIS (1981).

 

Por volta de 1981, eu e uns amigos do Instituto Dom Bosco, colégio onde eu estudava, resolvemos formar um grupo de rock. Eu comecei a estudar neste colégio em 1977. Em 1981, meu pai veio morar na casa da minha avó por uns meses, e quando partiu, esqueceu o violão dele (um Del Vecchio). Imediatamente me apropriei do mesmo. Foi neste violão que eu aprendi a tocar e é o meu principal companheiro musical até hoje. Foi nele que compus minha primeira música, uma variação sobre a nota Dó, e que recebeu o nome de “Concerto Folk em Dó Maior” (esta música está inserida no Livro-Música “O Último Círculo de Pedras”, uma coletânea de músicas e poemas que fiz em 1993, e que teve alguns acréscimos em 1996 e 2005). Foi com este violão que eu formei um grupo de rock com os meus amigos do Instituto Dom Bosco: André Sarmanho, meu parceiro musical, Paulo Marcos Fonteles, Paulo Roberto e Álvaro Alves. O grupo de rock se chamou Lesos & Loucos e quem criou este nome foi o Paulo Marcos depois que disse para ele que eu queria um nome para o nosso grupo que lembrasse o nome do grupo Secos & Molhados. Na época, eu voltei a ouvir muito esse grupo brasileiro, e eu também estava bastante influenciado pela morte de John Lennon. Logo depois de ter batizado o grupo, Paulo Marcos saiu do mesmo por divergências políticas. Começamos a ensaiar com alguns instrumentos do colégio, que foram cedidos pelas freiras, e também com os instrumentos que já tínhamos. Isso durou até o dia em que o Álvaro, que era o baterista, quebrou a guitarra elétrica, e as freiras acabaram por confiscar os instrumentos do colégio. Nós tínhamos até um empresário: um pilantra chamado Vítor, irmão mais velho de um colega da escola. Nessa época, passamos a freqüentar o imponente Palacete Bolonha, aonde funcionava a Secretaria de Cultura do Estado do Pará. Ficamos amigos do Secretario de Cultura, Walter Heskett, que nos apoiava em tudo e que permitiu que nós tivéssemos amplo acesso às dependências do prédio. Ficamos até famosos: disseram numa rádio da cidade que nós iríamos fazer um show. Fazer um show? Como? Nós não tínhamos nem instrumentos para ensaiar!!! Eram bons tempos aqueles. Passávamos muito tempo na Praça da República, observando as personagens daquele lugar: prostitutas, homossexuais, assaltantes, bêbados e artistas. Nós assistíamos peças de teatro na praça e começamos a beber e fumar também. Entrávamos em grandes prédios em construção e íamos até o último andar e ficávamos sentados apreciando a noite. Nós íamos à festas de aniversário e fazíamos arruaça. Eu e o André fizemos várias músicas, uma quantidade enorme de músicas. Todas se perderam, exceto uma, da qual restou somente o título (“Ver o Sol Nascer”, inserida no livro “Amálgama – Uma Coleção de Obscenidades”, uma coletânea de poemas que abrange o período que vai de 1981 a 1993, e que não foram utilizados em outros livros da Editora Ogmios). Jamais usamos drogas ilícitas, embora algumas pessoas pensassem que nós fazíamos isso. Belém sempre foi uma cidade muito provinciana: pessoas que gostavam de rock eram logo rotuladas de drogadas e subversivas, pelo menos naquela época. Eu, em particular, jamais gostei de maconha, cocaína ou outras drogas similares. Porém, eu sempre tive amigos que usavam estes tipos de drogas. Bom, o problema era deles e eu não os discriminava por isso. Eu sempre gostei de cerveja e de vinho, que são drogas lícitas. O vinho é bíblico, a maconha não, e eu sempre li a Bíblia.

 

Em dezembro de 1981 a aventura dos Lesos & Loucos estava terminada. Porém, muitas outras coisas aconteceram em 1981. Por exemplo, naquele ano eu entrei em contato com a obra do escritor Hermann Hesse, o qual teve uma grande influência sobre a minha pessoa. Até hoje eu leio os livros desse escritor. O livro “O Lobo da Estepe”, por exemplo, eu já li pelo menos umas vinte vezes. Eu também sempre quis fazer um filme sobre três contos que Hesse escreveu: “Augusto” e “Faldum”, do livro “Sonho de Uma Flauta e outros contos” (Maerchen), e “Hannes”, do livro intitulado “O Livro das Fábulas” (Fabulierbuch). O filme seria uma trilogia. Hesse foi uma grande influência para a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum).

 

Ainda em 1981 eu iria descobrir um álbum fantástico: The Piper at the Gates of Dawn (O Flautista nos Portões do Amanhecer), lançado pelo grupo inglês Pink Floyd em agosto de 1967, feito quase que por inteiro pelo grande músico e poeta Syd Barrett. Syd acabou se tornando uma das maiores influências da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum).

 

 

O GRUPO “THE PODRES”, A CONTINUAÇÃO DA PEQUISA E AS NOVAS COMPOSIÇÕES MUSICAIS (1982-1983).

 

Em 1982, eu fui estudar no N.P.I (Núcleo Pedagógico Integrado), e lá conheci, no primeiro dia de aula, dois novos amigos: Douglas Dias e Carlos Maurício (cujo o apelido era “Gafanhoto”). Através do Carlos Maurício eu conheci Heitor Meneses, que teria uma grande influência em minha vida. Também nesta época eu conheci várias pessoas que gostavam de rock, e através delas eu entrei em contato com os trabalhos de vários grupos importantes como o The Who, King Crimson, Renaissance, Yes, Genesis, Jethro Tull, Motörhead e vários outros. O mais importante foi o King Crimson, que teve uma grande influência em minha música. Robert Fripp (King Crimson) e Peter Gabriel (Genesis) sempre exercerem uma grande influência sobre a minha música. Gabriel despertou a minha curiosidade sobre a música africana.

 

Também em 1982 ocorreu um festival de Rock em Belém para promover o primeiro álbum do grupo paraense Stress. O evento ocorreu no campo de futebol do Paysandu, que fica localizado na rua da minha casa. A data do evento foi fixada exatamente para o dia anterior (noite, na verdade) ao das primeiras eleições diretas para Governadores dos Estados em todo o Brasil. O festival teria que parar à meia-noite em ponto, pois daquela hora em diante ninguém poderia mais consumir bebidas alcóolicas. Evidentemente, isso não foi respeitado. O show começou com um hippie tocando violão (a platéia começou a gritar palavrões para o cara). Depois entrou um cara chamado La Bamba. Ele tinha esse nome porque ele era um aleijado (ele tinha um defeito em uma das pernas). A platéia não teve misericórdia: xingou e atirou pedras. Depois, entrou em cena um grupo que fez a maior apresentação ao vivo que eu já vi na minha vida: “The Podres”. Eles tocaram apenas duas músicas, uma das quais era o grande hit deles, “COHAB Zona Suja”, a qual falava da decadência dos conjuntos habitacionais de Belém. O “The Podres” foi o primeiro e único grupo de punk rock que eu vi na minha vida. Os outros dois grupos que se apresentaram depois do “The Podres” foram o Apocalipse e o Stress. Eles fizeram um show muito fraco, comparado com a apresentação explosiva do “The Podres”. Quando o “The Podres” subiu no palco, os membros do grupo começaram a chamar palavrões para a platéia que, irritada, respondia jogando pedras e terra neles. O vocalista Regis era um espetáculo: ele estava vestido com um macacão de operário, tendo uma placa de carro pendurada no pescoço. No final do show, eles jogaram algumas frutas podres na platéia, que respondeu jogando pedras no grupo. Um verdadeiro show de punk rock. Logo depois eu conheci os membros do grupo, e foi através deles e de pessoas que andavam com eles, que eu conheci o trabalho do grupo inglês Sex Pistols e tomei conhecimento do movimento punk. Também, pela primeira vez, eu ouvi alguém falar de um grupo norte-americano chamado “MC 5” (em 1984, eu comprei o álbum importado Kick Out The Jams, o primeiro álbum do “MC 5”). Em 1983, eu cheguei a fazer parte da banda “The Podres” num único ensaio. Eu fui convocado para tocar baixo. O amplificador do baixo estava em cima de uma estante. Eu comecei a tocar com muita força e o amplificador acabou caindo sobre a bateria. Talvez por esse motivo eu tenha sido dispensado do grupo. O outro motivo da dispensa é que eu só queria tocar uma música: “COHAB – Zona Suja”. Até hoje eu sei tocar e cantar essa música. O “The Podres” foi muito bem no começo. Porém, depois de algum tempo, eles trocaram o nome para “Insolência Públika”, e a partir daí eles perderam a força que tinham, pelo menos na minha opinião. Um detalhe interessante sobre esse grupo é que todos os componentes originais, que tocaram no Campo do Paysandu, eram garotos da classe baixa de Belém, autênticos roqueiros. Talvez essa tenha sido a maior diferença entre o “The Podres” e os outros grupos daquela época.

 

Em 1983 eu dei continuidade à minha pesquisa poético/musical. Através do Heitor Meneses eu conheci vários grupos, como os Doors, Pearls Before Swine, The Incredible String Band, Steeleye Span e aprofundei meus conhecimentos sobre a obra de Bob Dylan (1962-1968, o melhor período da carreira dele, na minha opinião). A primeira vez que eu ouvi a música Light My Fire, dos Doors, eu a repeti pelo menos umas vinte vezes sem parar. O The Incredible String Band foi outra grande influência: Empty Pocket Blues foi a música que eu mais ouvi em minha vida, junto com Light My Fire, dos Doors, Scarborough Fair/ Canticle, de Simon e Garfunkel e Cotham Lullaby, de Meredith Monk.

 

Outros fatos ocorreram em 1983. Durante esse ano, eu compus mais três músicas. A primeira (minha segunda composição), foi intitulada “Concerto para os Pássaros”. A segunda composição foi o “Concerto em Lá Menor”. Tanto o “Concerto Folk em Dó Maior”, como o “Concerto para os Pássaros” e o “Concerto em Lá Menor” foram inseridas, em 1996, no Livro-Música “O Último Circulo de Pedras”. As gravações são de 1996. A outra composição, que eu gravei em 1983, foi inserida na abertura do Livro-Música “Iluminuras”, de outubro 1986, com o título “Abertura – O Princípio (Uma Dança Cerimonial – Parte I)”.

 

 

TOM RAPP E O PEARLS BEFORE SWINE (1983).

 

Porém, o grupo que foi determinante para a criação da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) e da Gravadora Arte Degenerada foi o Pearls Before Swine, grupo norte-americano liderado por Tom Rapp, que realizou suas atividades poético/musicais entre 1967 e 1971 e teve seus dois primeiros álbuns lançados nos Estados Unidos pela lendária gravadora ESP-DISK. Heitor Meneses tem o primeiro álbum do grupo, One Nation Underground, lançado em 1967, e em 1983 ele mostrou este álbum para mim. Este exemplar (lançado em 1967) que Heitor Meneses possui provavelmente foi comprado no Estados Unidos e levado para a Europa (Holanda). Alguém o adquiriu na Holanda e trouxe o mesmo para São Paulo (Brasil), e alguém finalmente o trouxe para Belém, até o álbum cair nas mãos do Heitor. E foi assim que eu conheci o som do Pearls Before Swine. Naquela época (década de 1980) era muito difícil você comprar álbuns importados. Este álbum que o Heitor possui é, portanto, uma raridade. Eu levei o álbum para a minha casa e em menos de dois dias eu aprendi a tocar todas as músicas. O que mais me surpreendeu, além da música, foi a capa deste álbum: um detalhe do tríptico “O Jardim das Delícias”, de Hieronymus Bosch, pintor flamengo do século XV. As músicas do álbum eram fantásticas. Pareciam músicas medievais. Um surrealismo impressionante. Mas, não haviam fotografias do grupo. Por muitos anos eu fiquei sem saber se Tom Rapp era um homem negro ou branco.

 

 

O INÍCIO DA EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM) - O PRIMEIRO LIVRO: “POEMAS” (1984).

 

A Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada teve início em 1984, com o livro “Poemas”. Na época, estas denominações (Editora Ogmios – Seaculum Obscurum – Gravadora Arte Degenerada) ainda não existiam.

 

A primeira vez que eu tentei escrever um livro foi por volta de 1975. Seriam dois livros: o primeiro seria uma autobiografia (na verdade, uma espécie de diário), e o segundo contaria a história do mundo, do começo ao fim da espécie humana no planeta. Infelizmente, após eu começar a escrever estes livros, ambos desapareceram misteriosamente de cima da mesa aonde eu os havia deixado. Em 1979 eu escrevi um pequeno poema: esta foi a minha primeira experiência com a poesia. Já em 1981, na época dos Lesos & Loucos, eu escrevi várias letras para as músicas que eu e André Sarmanho fazíamos. Em 1982 eu escrevi outro poema. Era um poema sobre os homossexuais da Praça da República, em Belém: “O Sonho de João”. Este poema está inserido no livro “Amálgama – Uma Coleção de Obscenidades”. Trata-se de uma reconstituição do poema original.

 

Eu não lembro como foi que eu comecei a escrever e a produzir o livro “Poemas”, mas lembro que este fato teve a influência do grupo Pearls Before Swine, da gravadora deles a (ESP-DISK) e do poeta inglês William Blake (1757-1827). Foi nessa época que eu conheci o trabalho de Blake e fiquei fascinado pela obra que ele deixou. Também devo citar a influência de Hermann Hesse e de vários poetas e escritores brasileiros. Inicialmente, o título do livro seria “Amálgama”. Porém, eu mudei de idéia. Os poemas foram escritos à mão, em estilo gótico (as letras eram desenhadas). A idéia que eu tinha era escrever um livro que não tivesse fim. O livro jamais terminaria. Este livro abre com uma citação do Evangelho de São Mateus (inspiração direta do grupo Pearls Before Swine). Há vários poemas neste livro, a maioria com uma certa tendência para o romantismo brasileiro. Porém, já aparecem nele poemas com características surrealistas, alguns escritos com palavras de vários idiomas (grego, latim, inglês, francês, alemão, espanhol, russo e até mesmo com palavras de idiomas de tribos indígenas brasileiras). É o caso dos poemas “Mensageiro dos Portais de Vidro da Loucura”, “Refrações da Infância”, “Zácrata”, “Subterrâneo do Delírio”, “Woodstock, Haight Hashbury, (Paz e Amor)”, “Poema Circular”, “Poema para o Silêncio” e “Algumas Palavras (A Escada)”. Algumas palavras um criei (por exemplo: a palavra Zácrata) e há um poema totalmente escrito em língua espanhola. É um bom livro e já apontava, naquela época, para a direção que a Editora Ogmios iria tomar: um surrealismo nebuloso, obscuro, sombrio, com a criação e fusão de palavras e a construção de frases formadas por palavras de vários idiomas. Infelizmente, alguns poemas se perderam ao longo dos anos e tiveram que ser reconstituídos em 2002.

 

 

DOIS LIVROS DE CONTOS, OS LIVROS “AS FLORES” E “AS CORES” E O SURGIMENTO DA EDITORA MORANGOS E UVAS (1985).

 

Em 1985, eu ingressei no Curso de Direito da Universidade Federal do Pará. Após o livro “Poemas“, eu resolvi escrever um conto, cujo o título foi “Um conto sobre a vida de São Francisco de Assis” (1985) (o título original não era exatamente este, mas o livro contava uma estória sobre a infância de São Francisco). Este livro já tinha algumas pinturas, uma delas muito bela. Infelizmente, este livro foi perdido. Após este livro, eu escrevi outro livro de contos: “Uns Dias na Infância” (1985), que também tinha pinturas e desenhos. Este conto trata de várias estórias da minha infância, entre elas o meu encontro com a obra dos Beatles. Neste livro podem ser vistos submarinos de várias cores, lojas de brinquedos, dançarinas, influências dos livros “Alice no País das Maravilhas” e “Alice no País do Espelho” (de Lewis Carroll), e uma curiosa cena da passagem da infância para a vida adulta. Este livro termina com um poema inspirado na música My Back Pages, de Bob Dylan. Esses dois livros foram feitos no primeiro semestre de 1985. No segundo semestre daquele ano, eu escrevi, numa única noite, os livros “As Flores” e “As Cores”. O livro “As Flores” têm várias pinturas e belos poemas, como é o caso dos poemas “Lírio” e “Gerânio”. Ambos foram construídos com frases compostas de palavras de idiomas variados (alemão, italiano, francês, inglês, português). O livro “As Cores” têm poemas mais longos e as palavras estão dispostas de forma variada. Estes dois livros têm bastante influência do romantismo e do surrealismo. Há pinturas muito bonitas também, como é o caso das pinturas “Lírio” e “Violeta”. Minha cor preferida sempre foi o verde. Quando eu era criança eu confundia o azul com o verde. Há referências sobre este fato em vários poemas que eu escrevi.

 

Eu jamais consegui fazer a capa para o livro “Poemas” (1984). Já para os livros seguintes eu fiz. Para os livros “Um conto sobre a vida de São Francisco de Assis” (1985) e “Uns Dias na Infância” (1985) eu fiz capas feitas com cartolina. Já para os livros “As Flores” (1985) e “As Cores” (1985), as capas foram feitas com cartolina, envolvidas em feltro (de cor alaranjada) e com os nomes costurados com lã. Todos esses livros eram feitos de forma rústica e, evidentemente, só podiam ter uma edição. Por esse motivo eu chamava estes livros de “Livros Socialistas”, pois já que teriam apenas uma única edição, não poderiam pertencer a ninguém. Surgia aí a minha idéia de que a arte não pode ser vendida. Eu acreditava nessas coisas. Eu tinha conhecimento do que havia acontecido em Haight-Hashbury (1965-1967), as ruas de São Francisco, na Califórnia, aonde o movimento hippie teve o seu início. Eu vi várias vezes o filme do Festival de Woodstock (1969), como também o filme do Festival de Monterey (1967), e eu fiquei maravilhado com as pessoas que tinham participado daqueles festivais de música. Portanto, eu acreditava que a arte não poderia ser vendida e que a arte tem um caráter de transformação social imenso. Hoje, eu não acredito mais nisso. Por outro lado, eu tinha conhecimento sobre as críticas que algumas pessoas faziam a respeito do Flower Power (Frank Zappa, álbum We’re Only in it for the Money – “Nós só Estamos Nessa pela Grana”). Eu sempre admirei Frank Zappa pela coerência que ele sempre teve.

 

Juntamente com as capas, surgiu a necessidade de dar um nome para os trabalhos artísticos que eu estava fazendo e produzindo. A primeira denominação deste projeto foi “Editora Morangos e Uvas”, que foi utilizada, provavelmente, até o mês agosto de 1986. A denominação “Morangos e Uvas” foi uma influência direta do filme “Morangos Silvestres” (Smultronstället), do cineasta sueco Ingmar Bergman, e do tríptico “O Jardim das Delícias” de Hieronymus Bosch. Logo após eu criar a denominação “Editora Morangos e Uvas”, eu acrescentei as palavras latinas “Seaculum Obscurum”. Na verdade, as palavras latinas eram “Saeculum Obscurum”, mas eu fiz uma pequena alteração. A palavra latina Saeculum foi alterada: a letra e muda de lugar com a letra a, formando a palavra “Sea” (mar, em inglês), formando desta forma as palavras “Seaculum Obscurum”, ou “o mar da obscuridade secular”. Esta era a idéia que eu queria dar: um mar obscuro e secular... a época em que eu nasci, com bombas atômicas, guerras insanas, superpopulação, riquezas, misérias, carros, aviões, naves espaciais, rodovias enormes, motéis e idéias absurdas. Assim, surgiu a EDITORA MORANGOS E UVAS (SEACULUM OBSCURUM). Todos os livros escritos até então (e os que foram escritos depois) pertenciam a série “BLITZBUCH” (livro relâmpago, em alemão). Esta junção de duas palavras alemãs é uma sátira à Blitzkrieg (guerra relâmpago, em alemão) dos nazistas. Eu não lembro da onde eu tirava estas idéias. Mas não foi por acaso que todas essas idéias estavam, de certa forma, interligadas a Bíblia. Após 1982, eu passei a ler muito a Bíblia e a ter um contato cada vez maior com a figura de Jesus Cristo. Com todo o respeito às igrejas católica e protestante, eu não gosto de freqüentar igrejas. Porém, apesar disso, eu sempre fui uma pessoa bastante religiosa. Toda pessoa que se envolve com música e poesia é, geralmente, uma pessoa religiosa. Uma das idéias que me fascinava era a questão sobre a eternidade e o tempo. Jesus Cristo disse: “não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. O que Jesus quis nos dizer é que nós devemos guardar nosso tesouro (nosso espírito e nossas idéias) na eternidade, ainda quando estamos na terra (no tempo). Se nós guardarmos nosso tesouro na terra (no tempo), nós perderemos tudo o que temos e até o que pensávamos ter, pois tudo o que está no tempo não é verdadeiro, não tem existência real. Assim, um dia a bela mulher envelhecerá, o ouro será roubado e derretido, os parentes e amigos morrerão, e a casa, grande e bela, ruirá. Portanto, nosso tesouro deve ser guardado na eternidade, aonde o tempo não existe. A eternidade é a verdadeira realidade; o tempo é a falsa realidade. Então, o nosso tempo, cheio de misérias, riquezas e ruínas, cheio de espantosas ambições, nada mais é do que a negação da eternidade, ou seja, da verdadeira realidade. O tempo atual seria, então, o mar da obscuridade secular, a falsa realidade aonde as pessoas se afogam em suas ambições e loucuras. Este é o significado da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum).

 

Portanto, já contando com cinco livros, teve início, em 1985, o projeto Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum), série Blitzbuch, um projeto artístico que produziria poemas e pinturas. Faltava encaixar a música neste projeto.

 

 

O SURGIMENTO DA GRAVADORA ARTE DEGENERADA E O PRIMEIRO LIVRO-MÚSICA: “O TECELÃO DE PAISAGENS” (MARÇO DE 1986).

 

Após eu terminar de produzir os primeiros cinco livros da Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum), mostrei os mesmos para alguns amigos. Alguns riram e acharam ridículo, outros acharam muito bom e criativo. Fora os amigos que eu já citei acima, em 1984 eu conheci mais três: Marcelo Lima, Jofre Jacó de Freitas e Cláudio Coimbra. Através do Marcelo eu conheci o Ruidevaldo, conhecido também como Culito Lopes (apelido dado em homenagem ao cantor paraense Frankito Lopes). Essas pessoas, juntamente com o Douglas e com o Heitor, tiveram uma presença constante em minha vida durante os anos que se seguiram.

 

Eu não lembro exatamente quando aconteceu, mas foi provavelmente por volta de março de 1986. Através do Marcelo e do Jofre eu conheci Carla Morrison, que estudava no Núcleo Pedagógico Integrado (N.P.I.). Todos estudavam na época no N.P.I. O N.P.I. era o melhor colégio de Belém na época. Eu já estava na Universidade. Eu lembro que aconteceu uma festa na casa da Carla. Foi nesta festa que eu descobri que ela tinha um teclado que reproduzia o som de vários instrumentos musicais (piano, órgão, flauta e outros instrumentos), e que também tudo isso poderia ser gravado no aparelho de som dela. Logo após a festa, eu apareci na casa da Carla com o intuito de gravar algumas músicas ou sons diversos, usando o teclado dela. Eu não sabia tocar piano, órgão ou flauta. Portanto, eu tinha que inventar as músicas. Não havia tempo para aprender ou para ensaiar. Todas as músicas eram compostas e gravadas na mesma hora. Eu dizia para a Carla: “Liga o deck”, e eu simplesmente começava a tocar. Eu gravei duas fitas cassetes. Após isso, eu voltei para a minha casa e comecei a montar um estúdio de gravação. Eu fui até a casa de um vizinho (que hoje mora na Califórnia, Estados Unidos) e pedi emprestado o amplificador que ele tinha na época (eu já usava captador no violão). Depois, fui até a casa do Marcelo e pedi emprestado o aparelho de som que ele tinha. Na minha casa, eu tinha mais dois gravadores. Com tudo isso em mãos, eu montei o estúdio e gravei o primeiro Livro-Música que eu fiz e produzi: “O Tecelão de Paisagens”. Eu chamei aquilo de Livro-Música porque eu quis dar mais ênfase à idéia de que aquilo não era um álbum de música e sim um livro de poesia em que a música atuava como se fosse uma espécie de trilha sonora. Dessa vez, o livro teve o formato da capa de um álbum comum (Lp, vinil). Eu fiz o modelo usando a capa do álbum Rubber Soul, do Beatles.

 

O Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” teve uma certa influência de grupos ingleses mais recentes, como o Joy Division e o Bauhaus. Nessa época, Heitor Meneses estava muito interessado nessas e em outras bandas inglesas mais recentes e me passava as informações que descobria sobre elas. A primeira música do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens”, cujo o título é “Geração”, tem um prólogo logo no começo. É o início da composição “Tocata e Fuga em Ré Menor, BWN 565” de J. S. Bach, que eu tirei de um álbum e gravei usando um microfone e o amplificador, o que dá a impressão de que a música está sendo tocada ao vivo, porque ela parece um pouco distorcida. “Geração” é uma peça muito longa, tocada ao piano, tendo ao fundo uma bateria eletrônica (bateria do teclado da Carla), sendo que vários sons distorcidos podem ser ouvidos: são sons do violão eletrificado, sons distorcidos e irreconhecíveis. Na segunda música, “Ornamento” também foi inserida uma parte de uma música de J. S. Bach: o Concerto Brandenburguês nº 3, em Sol Maior – Adagio. “Etéreo” é uma música punk que termina com um solo de violão que lembra algumas músicas do Pink Floyd e “A Catedral do Coração Silencioso”, última música da obra, é um solo feito com violão, órgão e gaita. O livro tem (ou tinha) pinturas diversas. No primeiro semestre de 1987, eu fiz um segundo exemplar. A primeira pessoa para quem eu mostrei o Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” foi Heitor Meneses. Eu liguei o gravador e perguntei para ele o que era aquilo. Ele disse: “parece com King Crimson”... (eu disse: “não!”). Ele disse: “Syd Barrett?”... (eu disse: “não!”). “Pink Floyd?”... (eu disse: “não!”). Quando eu disse para ele que eu tinha feito aquelas músicas, ele disse: “Eu não acredito! Isso é uma merda!”

 

Com a conclusão do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens”, tornou-se necessário criar uma editora musical ou gravadora. Deste modo, surgiu a Gravadora ARTE DEGENERADA, parte integrante da Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum). Eu não lembro de onde eu tirei este nome. Provavelmente, eu tirei esta expressão de algum livro que falava sobre o nazismo, pois “Arte Degenerada” era a expressão que os nazistas usavam para denominar a arte moderna e a arte feita por judeus.

 

 

O LIVRO “SETE PÉROLAS PARA HOLLANDRI” (MAIO-JUNHO DE 1986).

 

Entre os meses de maio e junho de 1986, eu fiz dois livros que não se encontram na relação de trabalhos produzidos pela Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Eu dei estes livros para Heitor Meneses e para uma amiga, Amanaci Gianacini. Eu não sei o que eles fizeram com estes livros. O interessante é que a capa destes livros tinha o formato retangular dos livros comuns, e não o formato de capas de disco. Hoje, os livros da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) tem o mesmo formato daqueles livros que desapareceram. Para falar a verdade, eu não lembro se foi mesmo entre os meses de maio e junho de 1986 que eu escrevi esses livros.

 

Após o Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” e os dois livros acima mencionados (dos quais eu não lembro nem sequer o nome), eu escrevi outro livro de poesia: “Sete Pérolas para Hollandri”. Pela primeira vez, a presença da obra de William Butler Yeats, Ezra Pound, T. S. Eliot e William Carlos Williams foi sentida em profundidade nos meus poemas. Ao ingressar no Curso de Direito, em 1985, eu dei início a uma atividade paralela na Universidade: eu fiz, por conta própria, um abrangente Curso de Letras e Artes. Somente em 1989 é que eu fui visto andando com livros do Curso de Direito. Antes, as pessoas só me viam andando com livros de poesia, pintura, música e cinema. Eu gostava também de filosofia. Tendo a companhia de Bob Dylan, Syd Barrett e Jim Morrison, eu realizei uma extraordinária pesquisa sobre a poesia e a literatura em geral, dos gregos aos americanos, passando pelos poetas malditos da frança. Naquela época, eu já conhecia a poesia beat. Eu já mantinha contatos com a obra de Allen Ginsberg, e ouvia e lia sobre a obra e a história de Jack Kerouac, Gary Snyder, Michael McClure e William Burroughs. Eu também já conhecia a poesia de Dylan Thomas e Sylvia Plath. Outra influência marcante em minha poesia foi o cinema. Desde 1983, eu e Heitor Meneses sempre íamos ao cinema assistir filmes que eram denominados “filmes de arte”. Assim, eu entrei em contato com o cinema francês, italiano, sueco, alemão e brasileiro, principalmente as obras de Werner Herzog e Rainer Werner Fassbinder. “Berlin Alexander Platz”, a série para a televisão alemã feita por Fassbinder e inspirada no romance de Alfred Doplim, teve uma grande influência em minha poesia e em minha música. Durante o ano de 1986, eu tive a idéia de fazer um filme que contaria as histórias das vidas de algumas pessoas que andavam como sombras numa praia deserta. Destarte, o livro “Sete Pérolas para Hollandri” foi um grande momento da minha poesia. Um dos poemas do livro, intitulado “Sombras”, foi publicado no dia 1º de junho de 1986 (domingo), no jornal paraense “A Província do Pará” (2º Caderno, página 4). Porém, eu já estava determinado a produzir um segundo Livro-Música, mais elaborado do que o livro anterior. Todos os livros anteriores foram escritos à mão, com as letras sendo desenhadas em estilo gótico. O livro “Sete Pérolas para Hollandri” foi escrito na máquina de escrever e assim foram escritos os que vieram depois (a exceção foi a segunda edição do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens”, feita provavelmente no primeiro semestre de 1987).

 

Naquele momento do ano de 1986, como eu já havia produzido vários trabalhos (do livro “Poemas” ao livro “Sete Pérolas para Hollandri”), resolvi enviar uma carta para Tom Rapp, do Pearls Before Swine. Na contracapa do álbum One Nation Underground havia um endereço: ESP-DISK, 156, 5th Avenue, New York 10010, USA. A carta (infelizmente, ela foi rasgada alguns anos depois) chegou a Nova Iorque e voltou para Belém, com a informação do correio norte-americano de que tal endereço não fora encontrado ou não existia mais. A pessoa que traduziu a minha carta do português para o inglês foi Amanaci Gianacini. Na carta eu perguntava para Rapp se ele ainda estava vivo. Eu dizia a ele que eu havia criado um projeto artístico denominado Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte de Degenerada, inspirado, entre outras coisas, pelo Pearls Before Swine e pela ESP-DISK. Aquela foi a primeira vez que o nome Seaculum Obscurum foi ouvido fora de Belém: na carta eu coloquei o nome da Editora Morangos e Uvas (Seaculum Obscurum).

 

 

O LIVRO DE PINTURAS “SURREALÍSTICA I”, O LIVRO-MÚSICA “ILUMINURAS” E A EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM) - (OUTUBRO DE 1986).

 

No segundo semestre do ano de 1986, eu decidi mudar o nome do meu projeto artístico. Eu li num livro de ciências ocultas alguma coisa a respeito do velho deus Ogmios, o velho calvo, uma divindade celta. O livro informava que da boca de Ogmios saiam fios de ouro que enlaçavam as orelhas das pessoas, as quais eram obrigadas a ouvi-lo. Pela magnitude da estória, achei o nome perfeito para o meu projeto artístico. Assim nascia, em definitivo, a EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM), tendo como sua parte musical a GRAVADORA ARTE DEGENERADA. Como pode ser observado, a denominação do projeto sempre foi “SEACULUM OBSCURUM”. Alguém pode perguntar: ‘por quê tantos nomes?” Bom, aquilo tudo funcionava como se realmente fosse uma editora e uma gravadora. Uma empresa poético/musical alternativa.

 

Após o livro “Sete Pérolas para Hollandri”, eu resolvi fazer um livro de pinturas. Juntamente com minha pesquisa literária e musical, eu também iniciei uma pesquisa sobre a história da pintura. Eu estava interessado em tudo o que se referisse às artes. Deste modo, entrei em contato com os trabalhos de Bosch, Michelangelo, Delacroix, Bruegel, Chagall, Van Gogh, Renoir, Goya, Monet, Salvador Dali, Courbet, Whistler, El Greco, Giotto, Louis Wain Andy Warhol e tantos outros grandes nomes. Eu também me interessava e estudava a pintura medieval, as esculturas gregas, os grandes monumentos da antigüidade. Assim, eu resolvi fazer o livro de pinturas “Surrealística I”. Eram, ao todo, umas oito pinturas, pintadas em folhas de cartolina branca.

 

Por volta do início de outubro de 1986, eu voltei a aparecer na casa da Carla Morrison. Meu objetivo era gravar mais um Livro-Música. Desta vez, eu produzi um álbum duplo, ou seja, eu gravei músicas numa fita cassete de 90 minutos (a fita cassete do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” tem 60 minutos). “Iluminuras”, o novo Livro-Música, teve o mesmo processo de produção do Livro-Música anterior: músicas gravadas em duas fitas cassetes, três aparelhos de som, amplificador, violão, flauta, gaita e outros efeitos sonoros. A música que abre o álbum foi denominada “Abertura – O Princípio ( Uma Dança Cerimonial – Parte I)”. A base desta música foi gravada em 1983, com violão e amplificador, como eu já falei antes. O som parece o de um órgão, mas é o som de um violão, distorcido e com ecos. Eu escrevi vários poemas para este livro, mas nem todos foram utilizados. O Livro-Música foi dividido em quatro partes: “O banquete do Cisne”, “Danças Árabes no Jardim das bonecas Manchadas de Sangue”, “A Carruagem dos Mortos” e “A Confraria de Nossa Senhora”. Nota-se nestes títulos a influência dos pintores Bosch e Bruegel. Cada parte conteria vários poemas. Os poemas “Recordações” e “A Cristaleira” foram feitos com fortes imagens surrealistas da minha infância. A minha avó tinha uma cristaleira, e eu sempre imaginava pequenos seres espirituais brincando dentro dela, entre taças de cristal e copos de vidro, sob o reflexo do espelho. Quando eu era criança, eu tinha alguns livros que contavam estórias fantásticas e fábulas misteriosas e que tinham gravuras maravilhosas (lendas tchecas, italianas, inglesas, etc). Eu era fascinado por estes livros como também por mitos e estórias sobre seres fantásticos da Amazônia. Também havia um pequeno jardim na frente da casa, aonde eu sempre brincava e imagina seres fantásticos vivendo ali. Foi por esse motivo que eu tanto me aproximei da obra de escritores como o irlandês William Butler Yeats. Yeats tem estes poemas e peças teatrais fantásticos, com seres mitológicos como personagens principais. Ele foi um dos escritores que mais exerceu influência em minha obra poética. O título do poema “O Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue” foi tirado de um fato ocorrido em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Algumas pessoas haviam ido a um Pub para festejar os 15 anos de uma garota. Logo teve início um ataque alemão e uma bomba alemã atingiu o Pub. Várias pessoas morreram. Uma testemunha que passava pelo local da explosão disse que os mortos foram colocadas na rua, em fila, e que aquelas pessoas mortas se assemelhavam com belas bonecas manchadas de sangue. Há muitos outros grandes poemas/músicas no livro: “Hôrvalos Harpa”, “A Dama Nascente na Queda da Lua Amarela”, “Imersão Plástica”, “Maria”, “Relações Humanas Falidas”, “Dança das Núpcias”, “Santificados Infernos”, “Os Sinos – O Princípio”, “Os Sinos – As Harpas” (nesses dois últimos, no que se refere às respectivas músicas, há sinos tocando e ocorre a repetição da música “Abertura – O Princípio.”).

 

O título deste Livro-Música (“Iluminuras”) foi tirado de livros medievais (evangelhos) feitos por monges, como os Evangelhos de Lindisfarne. Portanto, não tem qualquer relação com o livro “Iluminações”, do poeta Arthur Rimbaud. Na época em que eu escrevi o Livro-Música “Iluminuras”, eu conhecia alguns poucos poemas de Rimbaud e desconhecia o fato de que um dos seus livros tinha como título a palavra “Illuminations” (Iluminações), que alguns tradutores traduziram para o português com o título de “Iluminuras”. Em 2002, quando eu digitei o Livro-Música “Iluminuras” no computador, eu resolvi acrescentar um subtítulo: “As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue”. Assim, eu espero ter retirado qualquer possibilidade de relação do meu livro com o livro de Arthur Rimbaud.

 

 

O LIVRO-MÚSICA “GUIRLANDA DE FLORES SANGRENTAS” (FEVEREIRO DE 1987) E O FIM DA GRAVADORA ARTE DEGENERADA (JUNHO DE 1987).

 

O último Livro-Música produzido nos tempos áureos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada teve como título “Guirlanda de Flores Sangrentas”, e foi feito entre os meses de fevereiro e março de 1987. Com relação às músicas houve uma modificação no método de compô-las: este Livro-Música foi composto, quase que integralmente, na casa de Carla Morrison. Ou seja, dessa vez eu não gravei duas fitas cassetes e trouxe o material para a minha casa para realizar outra gravação, usando três gravadores, violão e outros instrumentos e efeitos sonoros. Quase tudo foi gravado diretamente no teclado. Apenas algumas músicas, que foram gravadas posteriormente, foram gravadas em casa. A música para o poema “Lisa Tocando seu Violino em meu Deserto” foi gravada na casa de Marcelo Lima, com o violão dele. “Guirlanda de Flores Sangrentas” foi talvez o melhor trabalho da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada em termos de música. O material foi gravado numa fita cassete de 45 minutos e teve bastante influência do grupo “Cocteau Twins”, principalmente dos álbuns “Treasure” e “Victorialand”. Em termos de poesia, eu aprofundo a minha obsessão por fadas, baleias, oceanos, etc. O poema “Para Uma Mulher da Velha e Longínqua Ilha Verde, em Transe por sua Beleza – (Canção para uma Imagem)” foi dedicado a Grace Slick, cantora norte-americana do grupo Jefferson Airplane, para mim uma das mulheres mais belas que já pisou a face da terra. Na verdade, os poemas do Livro-Música “Guirlanda de Flores Sangrentas” foram escritos em 1986, e eram, em sua maioria, sobras do Livro-Música “Iluminuras”. Entretanto, os dois Livros-Música não foram terminados em 1986 e 1987. Eles foram completados e terminados somente em 2002. Na verdade, em 2002 foram feitos poucos acréscimos em relação à estrutura dos livros, e foram escritos alguns poucos poemas para completar as duas obras. Tanto o Livro-Música “Iluminuras” quanto o Livro-Música “Guirlanda de Flores Sangrentas” são considerados por mim os dois melhores trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada. “Guirlanda de Flores Sangrentas” foi o último Livro-Música da Gravadora Arte Degenerada até o renascimento da mesma, no ano de 2003.

 

Ainda no primeiro semestre de 1987, eu dei início à produção de mais um livro de pinturas: o “Surrealística II”. Este trabalho não foi inteiramente concluído e seria o último trabalho de pintura da Editora Ogmios até o ano de 2002, quando eu produzi novas pinturas.

 

Após eu dar início ao livro de pinturas “Surrealística II”, eu decidi fazer outro Livro-Música. Desta vez, seria um álbum muito mais elaborado do que os anteriores. Infelizmente, não foi possível nem mesmo iniciar este projeto. Em junho de 1987, minha avó Olga Rosário sofreu um devastador derrame cerebral, teve braço e perna paralisados, perdeu quase que por completo a fala e ficou assim numa cadeira de rodas até a sua morte, ocorrida em 2 de setembro de 1998. Devido a este fato, a Editora Ogmios praticamente terminou. Como eu falei acima, em 1969, após a separação dos meus pais, eu fui morar na casa dos meus avós, pais do meu pai. Os meus avós, Dário e Olga eram funcionários públicos do correio brasileiro. Ele nasceu em 1910 e faleceu em 1979; ela nasceu em 09 de outubro de 1909. Em 1983, um tio que morava conosco foi trabalhar no Banco do Brasil, em cidades do interior do Estado do Pará. Assim, passaram a morar na casa eu, a minha avó Olga, a empregada (uma mulher negra, cujo o nome é Deodata e que passou a morar conosco a partir de 1972), duas cachorras e um gato. Uma das cachorras se chamava Laisse e passou a morar em casa desde 1974. A outra, Ana Preta, veio morar em casa em 1978. Um dia, eu vinha do colégio e, quando eu desci do ônibus, na Avenida Almirante Barroso, em frente ao campo de futebol do Paysandu, eu vi uma cachorra correndo com um filhote na boca. A cachorra acabara de dar à luz a três filhotes. Um deles ela levou na boca; os outros dois estavam numa caixa de papelão, que alguém pegou. Eu decidi ficar com os dois filhotes. Passou um homem e pediu para levar um deles. O outro eu levei para casa: era a Ana Preta. Os olhos dela ainda estavam fechados. A mãe de Ana Preta não era uma cachorra muito grande, mas a filha ficou enorme, quase do meu tamanho. O pêlo dela era preto e branco. Ao longo de dez anos, ela jamais rosnou para mim; ela gostava de pássaros e gatos, gosto não compartilhado com a Laisse, que detestava gatos. Uma vez, em 1983, eu cheguei em casa (noite) e a Deodata disse para eu olhar em volta, na cozinha, porque tinha uma surpresa para mim. Eu procurei a tal surpresa e então vi o que era: um gato. Demos a ele o nome de Preto, porque o pêlo dele era preto e branco, como o pêlo da Ana Preta. Nós sempre tivemos vários gatos em casa. “Preto” foi o nosso terceiro e último gato com pêlo preto e branco. Com o passar do tempo ele foi crescendo e nós dois ficamos amigos. Ele gostava de ouvir música erudita (Bach, principalmente)! Assim, em 1983, esses eram os moradores da casa nº 2623, da Travessa do Chaco. Certa vez, um amigo disse que na minha casa só moravam figuras históricas. Foi neste ambiente surrealista que a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada surgiu. Era um ambiente um tanto mágico, como se fosse um conto de fadas. Mas, como todo conto de fadas, havia um lado negro neste paraíso e este lado negro teve início em 1984. Por algum motivo que eu não sei explicar até hoje, desde o ano de 1984 o esgoto da rua entupiu. Quando chovia, a rua virava um oceano, e como a rua tinha sido asfalta em um nível acima da nossa casa, a nossa casa começou a ir para o fundo toda as vezes que chovia. Ou seja, a água da chuva, misturada com lama e com a água do esgoto invadia a casa. Por mais incrível que possa parecer, até hoje esse problema não foi resolvido. Olga já tinha tido um problema em 1975, e ficara proibida de subir a escada que levava ao andar de cima da casa. Em 1985, após a morte do filho mais velho, ocorrida em Brasília, ela teve um pequeno derrame cerebral que afetou as pernas dela. Desde o ano de 1983 eu passei a dormir no quarto dela. Eu tomava conta dela e nós conversávamos muito. Ela conheceu pessoalmente dois presidentes da República: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Também tínhamos momentos de depressão, principalmente após uma enchente. Falávamos até em suicídio coletivo. Evidentemente, não tínhamos coragem para tanto. Uma vez, em 1987, começou a chover em plena madrugada e em menos de meia hora a casa estava inundada. Eu levei Olga até o meu quarto, no segundo andar da casa, fui até o quintal e soltei Ana Preta e a levei também para o meu quarto. Algum tempo depois alguém começou a arranhar a janela do meu quarto: era o preto, o gato. Todos dormiram no meu quarto naquela noite, após eu mostrar a eles os trabalhos da Editora Ogmios. O problema do derrame cerebral que aleijou Olga para sempre começou a ocorrer em fins de maio. Ela começou a sentir dores de cabeça e tonturas. Chamei o médico. Antes do médico chegar, minha mãe, que era estudante de medicina, apareceu lá em casa, examinou Olga e deixou um bilhete para o médico dizendo que Olga estava fazendo um quadro de derrame cerebral. Quando o médico chegou em casa, leu o bilhete e disse que o problema não era o indicado no bilhete, e sim uma simples faltar ar (dificuldade respiratória). Ele receitou algumas sessões de aerossol. Durante três dias, eu levei Olga religiosamente ao hospital para as sessões de aerossol. No terceiro dia, por volta das 07:30 horas da noite, Deotada apareceu no pé da escada gritando para mim descer com urgência, porque Olga, que estava assistindo televisão, não conseguia falar. Naquele exato momento, eu estava ouvindo o Sgt. Pepper’s, do Beatles (por pura ironia, a música A Day in the Life). Fazia vinte anos que este álbum havia sido lançado. Desci a escada e encontrei Olga tentando falar e sem movimentos no braço direito. Depois reparei que a perna direita também não se movia. Telefonei para a minha tia, o marido dela apareceu na porta de casa após uns 10 minutos. Carreguei Olga nos meus braços até o carro e a levei para o hospital. Ela foi internada na Unidade de Tratamento Intensivo. Ela ficou lá durante quatro dias, entre a vida e a morte. Eu enlouqueci com aquela situação. A Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) / Gravadora Arte Degenerada tinha acabado ali mesmo, por uma série de motivos que aqui não cabe enumerar.

 

 

O LIVRO “AMÉRICA LATRINA E O GIGOLÔ AMERICANO” (1988) E O INÍCIO DA DISPERSÃO (1989).

 

No segundo semestre de 1987, apesar do problema que aconteceu, eu ainda tentei levar a minha vida de maneira equilibrada. Mas, naquela situação era impossível. Minha avó voltou para casa e ficou do jeito que estava por 11 anos, até a sua morte: deitada na cama ou sentada na cadeira de rodas, tendo que comer, tomar banho, urinar e evacuar com a ajuda das pessoas. Porém, devo dizer que apesar do que tinha acontecido, ela ficou com o rosto mais risonho.

 

Foi a partir do ano de 1988 que eu comecei a beber muito. Eu já bebia cerveja e vinho antes do problema da minha avó acontecer, mas foi depois do derrame cerebral de Olga que eu passei a beber com mais intensidade. Eu sempre gostei de cerveja e vinho. A casa continuava a encher de água quando chovia, e esse problema só foi devidamente solucionado em 1994, quando o piso da casa foi elevado acima do nível da rua.

 

Em termos de música e pintura, a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada teve sua atividade interrompida por tempo indeterminado. A última música que eu compus se chamou “Cetáceos”. Eu a fiz em parceira com o Jofre Jacó de Freitas. Esta música, composta e gravada em 1988, e outra (The Wife of Ushers Well, um poema inglês do século XV), composta e gravada por mim e Heitor Meneses, em 1986, foram as únicas músicas feitas por mim e outras pessoas dentro da Editora Ogmios. As outras músicas foram composta, tocadas e gravadas por mim, sem a ajuda de ninguém.

 

Em termos de poesia, a Editora Ogmios ainda continuava, porém, sem o mesmo brilho que tivera anteriormente. Durante o ano de 1988, eu comecei a me aproximar mais dos colegas do Curso de Direito, em especial, de pessoas ligadas à correntes políticas da esquerda. Eu jamais me filiei a qualquer partido político, mas eu sempre votei e fiz campanha para os candidatos do Partido dos Trabalhadores e para outros partidos de esquerda. Durante aquele ano, eu comecei a escrever alguns poemas e foi daí que surgiu o livro “América Latrina e o Gigolô Americano”. Este poema foi inspirado numa música do banda britânica The Incredible String Band. Era uma sátira sobre a América Latina e a presença americana no continente. Este poema e outros mais circularam no ano de 1988, no Curso de Direito, da Universidade Federal do Pará. Em 2002, juntei todas esses poemas e mais alguns, também escritos em 1988, no livro “América Latrina e o Gigolô Americano”. Mas, na época, este livro não existia. O poema “O amor Construído no Pó”, que é desta época e está no livro “América Latrina e o Gigolô Americano”, foi publicado no dia 23 de dezembro de 1988 (sexta-feira), no jornal paraense Diário do Pará (D-4), com o título “O Amor Construído na Poesia”, alteração esta feita pelo meu pai, sem a minha autorização.

 

Foi em 1988 que eu conheci a música de Meredith Monk, através do álbum Dolmen Music. Fiquei fascinado por ela e pelo álbum. São poucos os álbuns que eu considero perfeitos: Rubber Soul (Beatles), The Piper At The Gates of Dawn (Pink Floyd), One Nation Underground (Pearls Before Swine), John Wesley Harding (Dylan), Red (King Crimson), Kick Out The Jams (MC 5) e Dolmen Músic (Meredith Monk). Se eu tivesse conhecido o trabalho de Meredith Monk em 1984 ou em 1985, com certeza ela teria sido uma grande influência para a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada. Mas, eu conheci a música dela um pouco tarde demais.

 

Em dezembro de 1988 Ana Preta faleceu. Como não foi possível enterra-la no quintal da casa do meu tio, que mora na mesma rua da minha casa, eu tive que abandonar o corpo dela num terreno desocupado que ficava localizado na Avenida 1º de Dezembro, próximo da minha casa. Isso aconteceu pela parte da tarde. Na noite daquele dia eu voltei ao terreno aonde eu havia deixado o corpo dela. Pedi para São Lázaro ressuscita-la, mas não fui atendido.

 

Preto, o gato, ainda viveu até 1989. Ele simplesmente sumiu. Um dia, ele saiu de casa e não voltou mais. Provavelmente, ele deve ter sido atropelado por um carro, ou ter simplesmente mudado de casa. Deodata disse ter visto o gato andando próximo de casa, muito tempo depois.

 

Em 1989 eu comecei a dispersar os trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Eu simplesmente comecei a dá-los de presente para amigos, namoradas e pessoas desconhecidas. A primeira edição do livro “O Tecelão de Paisagens” (eu havia feito dois exemplares, um em 1986 e outro em 1987) foi dado para três cidadãos franceses (Laura, Nathalie e Jean-Christophe), por volta de julho de 1989. Todos residiam em Paris, capital da França. Guardo até hoje um livro do escritor Robert Brasillach (Comme le Temps Passe), que eles me deram de presente. Neste livro constam dedicatórias à minha pessoa escritas por estes franceses. Eu lembro que a Nathalie disse o seguinte, no aeroporto de Belém, quando eles estavam indo embora: “esse livro do Brasillach tem aos montes na França, mas este teu livro é o único no mundo”. Eu disse a ela que eu tinha outro exemplar. Eles levaram o livro “O Tecelão de Paisagens” para Paris e essa foi a primeira vez que o nome da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) entrou na Europa. Embora Laura tenha me fornecido o seu telefone (em Paris), eu jamais entrei em contato com ela e seus amigos novamente. Os livros “Poemas” (1984), “Um conto sobre a vida de São Francisco de Assis” (1985), “Uns Dias na Infância” (1985), “As Cores” (1985), “As Flores” (1985) e “O Tecelão de Paisagens” (edição de 1987), tudo em original, foram dados para Maria Ineida, minha segunda namorada. Isso ocorreu por volta de novembro de 1989. No ano de 1993, Maria Ineida devolveu alguns livros: “Poemas” (1984 – alguns poemas que constavam neste livro desapareceram), “Uns Dias na Infância” (1985), “As Cores” (1985), “As Flores” (1985) e “O Tecelão de Paisagens” (edição de 1987 – quatro poemas deste livro também desapareceram). Maria Ineida faleceu em janeiro de 2000, vítima da leucemia, conforme fui informado por seus familiares. Seus familiares não souberam informar o paradeiro do livro sobre “São Francisco de Assis” (1985) e dos poemas desaparecidos dos livros “Poemas” (1984) e “O Tecelão de Paisagens” (edição de 1987). O livro de pinturas intitulado “Surrealística I ” (1986) foi dado para Jofre Jacó, provavelmente nos anos de 1989 ou 1990, sendo que o Jofre, segundo informações prestadas por ele, perdeu o livro durante uma mudança de residência. O livro de pinturas intitulado “Surrealística II ” (1987) foi dado para Andrea Pontes Souza, provavelmente no ano de 1990, sendo que a mesma me informou que não sabe o paradeiro do citado livro, provavelmente perdido durante uma mudança de residência.

 

Portanto, muitos trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada simplesmente desapareceram. Foi muita sorte Maria Ineda ter devolvido a maioria dos livros que estavam com ela. Se isso não tivesse acontecido, eu não teria nenhuma prova da existência da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Pelo menos em relação aos livros mais antigos.

 

 

O LIVRO “INVOCAÇÕES” (DEZEMBRO DE 1991).

 

Em 1990 eu conclui o Curso de Direito. Algumas pessoas ficaram espantadas com este fato. Pensavam que eu jamais conseguiria sair da universidade. Eu escrevi alguns poemas durante este ano, mas foi um ano em que eu não produzi muitos trabalhos. Foi em 1990 que eu comecei a namorar com Regina Lúcia. Em 1991 escrevi um livro e dediquei o mesmo para ela. O livro não era sobre ela, mas ela foi a motivação. Assim, nascia o livro “Invocações”. Na verdade, grande parte deste livro havia sido escrita entre os anos de 1986 e 1988. Eram pedaços de poemas que eu não utilizara anteriormente, e resolvi colocar tudo no livro “Invocações”. Este foi o primeiro livro escrito de forma regular, desde o incidente de 1987. “Invocações”, apesar da influência da poesia de Jim Morrison (eu havia voltado a ouvir os Doors novamente) e T. S. Eliot, lembra muito a poesia de Walt Whitman. Eu só notei este fato muito recentemente, após ler uns trecho de um livro de Walt Whitman. Evidentemente, “Invocações” se assemelha com a tradução, e não com o original, já que o livro foi escrito em português. O primeiro exemplar do livro “Invocações” foi dado para Regina Lúcia em 1991; eu fiquei com duas cópias do livro.

 

Entre 1992 e 1993 eu escrevi poucos poemas e juntei todos eles, mais alguns poemas escritos desde 1981 (que não estão nos livros anteriormente escritos) numa coletânea de poesia denominada “Amálgama – Uma Coleção de Obscenidades” (2002). “Amálgama”, como eu disse anteriormente, seria o título do primeiro livro da Editora Ogmios, que foi mudado para “Poemas” (1984).

 

 

A COLETÂNEA “O ÚLTIMO CÍRCULO DE PEDRAS” (1993).

 

Em 1993, eu resolvi fazer uma coletânea com as músicas que eu gravei entre 1986 e 1988. Eu escolhi as melhores composições musicais dos Livros-Música “O Tecelão de Paisagens”, “Iluminuras” e “Guirlanda de Flores Sangrentas” e acrescentei as composições “Ácido no Vento” e “Cetáceos”. “Ácido no Vento” não é propriamente uma composição. Foi uma experiência com o prato do aparelho de som do meu tio, que mora na Travessa do Chaco. A experiência consistiu em criar efeitos sonoros girando um disco com músicas no prato do aparelho de som. Assim, “Ácido no Vento” é apenas um emaranhado conjunto de sons estranhos e distorcidos. “Cetáceos” foi a música que eu e Jofre Jacó compomos e gravamos em 1988. Nós chegamos a gravar três versões desta música em 1988, e apenas uma foi utilizada na coletânea. A coletânea teve como título “O Último Circulo de Pedras”, uma referência aos dolmens gigantes erguidos a milênios na Europa Ocidental (uma influência do álbum Dolmen Music, de Meredith Monk). Eu queria preservar as melhores músicas que tinham sido feitas na década de 1980. As fitas cassetes que utilizei na época estavam ficando velhas. Assim, gravando as melhores músicas numa fita cassete mais nova, eu estaria preservando o melhor das músicas, caso acontecesse algum problema com as fitas cassetes originais. Como eu ouvia muito pouco essas fitas cassetes originais, até hoje elas não apresentaram problemas e estão muito bem conservadas. O Livro-Música “O Último Círculo de Pedras” (além das músicas, há no livro os poemas referentes as mesmas) sofreu alguns acréscimos em 1996 e 2005. Este foi o último trabalho da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada em 1993, que somente voltaria a produzir poesia, música e pintura a partir do ano de 2002.

 

 

NOVOS TEMPOS (1994-2000).

 

Por volta de novembro de 1992 eu saí de casa para comprar alguma coisa. Quando eu entrei na calçada da Avenida 1º de Dezembro, me deparei com uma cena inusitada. Eu vi um gato, totalmente branco, parado perto da sarjeta. Parecia que ele estava meditando e pensando se cometeria suicídio ou não, atirando-se na direção dos carros. Eu parei e o segurei e percebi que ele estava bastante subnutrido; dava para sentir seus ossos com as minhas mãos. Eu o coloquei de volta no lugar em que ele estava e segui meu caminho, pensando: se eu voltar e este gato ainda estiver aí, eu o pego e o levo para minha casa. Quando eu voltei, ele estava no mesmo lugar em que eu o havia deixado antes, olhando fixamente para os carros. Eu peguei o gato e o levei para a minha casa. Apesar dos protestos iniciais, o gato ficou em casa e eu o criei dentro do meu quarto. Ele cresceu e ficou enorme. Ele era todo branco, com pêlos longos. O nome que eu dei para ele foi Branquinho. Branquinho ficou comigo até a sua morte, ocorrida em 08 de março de 2003, em Santarém. Fotos dele foram dadas para Tom Rapp (Port Charlotte) e Meredith Monk (Nova Iorque).

 

Por volta de 1994 ou 1995, eu não lembro com precisão o ano, um amigo chamado Rui Roth, que havia passado uma temporada morando na Alemanha, disse que viu vários garotos alemães fazendo trabalhos semelhantes aos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Eu fiquei feliz ao saber disso, já que algumas pessoas em Belém achavam que os meus trabalhos artísticos eram loucura e perda de tempo. Nós devemos observar, mais uma vez, que Belém é uma cidade muito provinciana.

 

Em 1994 eu ingressei no Curso de Mestrado em Direito (Programa de Pós-Graduação em Direito) da Universidade Federal do Pará. Em 1996 eu decidi fazer uma pesquisa sobre tráfico internacional de drogas no Estado do Pará para concluir o Curso de Mestrado. Em fevereiro de 1999, após uma longa paralisação nos trabalhos de pesquisa, finalmente o trabalho foi concluído. Este trabalho científico teve o título de “O Narcotráfico e o Sistema Penal Federal no Estado do Pará”. Foi um trabalho muito extenso e abrangente, repleto de poemas (Arthur Rimbaud, Jim Morrison, Hesse, T. S. Eliot, etc), citações sobre as gerações Beat, Hippie, Punk, etc, e também com trechos de textos retirados da revista Playboy, do livro “Please Kill Me” (de Legs McNeil e Gillian McCain) e de outros livros menos habituais no meio jurídico do Estado do Pará. Para completar, eu incluí duas fitas cassetes com músicas de vários grupos e artistas norte-americanos e ingleses (a maioria fazia alusão às drogas): Velvet Underground, Pink Floyd, Frank Zappa, Pearls Before Swine, Beatles, Bob Dylan, Rolling Stones, The Grateful Dead, The Grateful Dead, David Peel & The Lower East Side, MC 5, The Stooges Sex Pistols, etc. Tudo isto foi utilizado na primeira parte do trabalho, que trata da questão das drogas de uma forma geral. A segunda parte é inteiramente dedicada ao tráfico internacional de drogas no Estado do Pará. Em suma, foi uma obra revolucionária. Na época, o Congresso Nacional tinha iniciado uma investigação sobre o narcotráfico no Brasil. No dia 14 de outubro de 1999 eu finalmente defendi o trabalho perante uma banca examinadora. Obtive o conceito “Excelente”.

 

Depois da defesa da dissertação, eu mostrei o trabalho para um amigo que trabalhava, na época, no jornal paraense “O Liberal”. Ele mostrou partes do trabalho para o chefe dele, e eles resolveram fazer uma reportagem sobre o meu trabalho. Eu esperava que eles publicassem apenas uma meia página, mas no dia 31 de outubro de 1999 (domingo) o jornal publicou uma reportagem de página inteira que incluía entrevistas com um Juiz Federal e com o chefe da Polícia Federal do Estado do Estado do Pará. Pela primeira vez na vida, eu era notícia no Brasil e no mundo (a reportagem foi colocada na Internet, no site do jornal, e o jornal circulava em vários Estados Brasileiros e em alguns países também). Eu estava famoso, porém sem dinheiro. Para mim aquela reportagem foi uma grande vitória. Como aluno do Curso de Mestrado, eu havia recebido durante trinta e um meses uma bolsa de estudos que hoje teria o valor de 20 mil dólares. Se eu não tivesse terminado o trabalho, eu teria que devolver todo este dinheiro ao Governo Federal. A vitória foi um alívio, mas eu continuava desempregado. Na época em eu fiz este trabalho científico, eu não tinha computador e eu tive que digitar todo o texto na casa de amigos e parentes, além de realizar, sem a ajuda de ninguém, a pesquisa de campo (análise de processos criminais sobre tráfico internacional de drogas, entrevistas com autoridades, etc). Pobre eu sempre fui, e as únicas vezes em que eu ganhei algum dinheiro decente na vida foi com a bolsa de estudos do Curso de Mestrado e depois como professor temporário da Universidade Federal do Pará. Pelo menos até aquele momento da minha vida.

 

Em fevereiro de 2001 aconteceu um evento internacional em Belém, que teve como tema o tráfico internacional de drogas na Amazônia. Representantes das polícias francesa e do Estado de São Paulo estiveram presentes. Um Juiz Federal do Estado do Pará foi convidado, e pediu que eu lhe fornecesse os dados da minha pesquisa, sem me informar que estes dados seriam utilizados no evento. Ele fez sua palestra com base nesses dados e citou o meu nome. Um repórter do jornal “O Liberal” ouviu a palestra do Juiz e conseguiu o meu telefone. O repórter me telefonou, fez uma entrevista comigo, e mais uma vez saiu uma reportagem de página inteira no jornal “O Liberal”, dessa vez com uma chamada na página de frente (esta reportagem também foi colocada no site do jornal, na Internet). A reportagem foi publicada no dia 18 de fevereiro de 2001 (domingo). Como continuação dessa reportagem, no dia 27 de maio de 2001 (domingo), foi publicada a terceira reportagem sobre o meu trabalho, que ocupou quase toda a página, e também foi colocada no site do jornal, na Internet. Dessa vez, a reportagem abordou somente a relação entre as drogas e as artes. Até onde eu sei, jamais um trabalho científico tinha ocupado tanto espaço na imprensa do Estado do Pará.

 

Como pode ser verificado, o trabalho científico “O Narcotráfico e o Sistema Penal Federal no Estado do Pará”, pela sua estrutura, foi praticamente um trabalho da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada. Podemos dizer que este trabalho científico foi o ponto de partida de um novo período da Seaculum Obscurum.

 

 

FALANDO COM TOM RAPP E MEREDITH MONK, E A RESSURREIÇÃO DE BLIND JOE DEATH (2001-2002).

 

Em outubro ou novembro de 2000, meu pai me deu um computador usado como presente. A primeira pasta que eu abri teve o nome de “Editora Ogmios”. Eu comecei a digitar todos os poemas e textos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) no meu computador.

 

Em 2001 eu comecei a trabalhar como professor do Curso de Direito da Universidade da Amazônia (UNAMA). Foi ali que eu comecei a ter a acesso à Internet. Antes de 2001 eu jamais tinha usado a Internet. Esse magnífico instrumento de comunicação foi o responsável pelo efetivo retorno da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada.

 

Em 2001 eu voltei ao arquivo da Justiça Federal do Estado do Pará para dar continuidade à minha pesquisa sobre tráfico internacional de drogas. Para fazer o trabalho científico “O Narcotráfico e o Sistema Penal Federal no Estado do Pará”, eu pesquisei todos os processos criminais sobre o assunto, de 1976 a 1999. Assim, em 2001, eu pesquisei o período de 1967 a 1975. Um dia, eu estava no arquivo com um amigo, o Gaia. Gaia é funcionário da Justiça Federal. Ele gosta de rock e tem uma das mais maiores coleções de discos e Cds de Belém. Ele estava navegando pela Internet. Eu ainda não sabia mexer na Internet. Então, eu pedi para o Gaia colocar o nome “Tom Rapp”, para ver o que aconteceria. De repente, surgiu um site. Eu fiquei impressionado com aquilo. Como eu disse anteriormente, eu conheci o grupo de Tom Rapp, o Pearls Before Swine, em 1983, através de um álbum lançado em 1967, o One Nation Underground. Em 1997, Douglas havia comprado dois Cds do Pearls Before Swine: One Nation Underground (1967) e Balaklava (1968). Nos Cds haviam várias informações sobre o Pearls Before Swine, sobre a gravadora ESP-DISK e também algumas fotos de Tom Rapp. Foi a primeira vez que eu vi o rosto do Tom. Eu descobri, então, que ele era advogado, como eu. Voltando a 2001, no mesmo dia em que eu estava com o Gaia no arquivo Justiça Federal, e que eu e ele vimos o site sobre o Pearls Before Swine, um pouco mais tarde, na UNAMA, eu voltei a acessar a Internet e descobri um site ainda maior do Pearls Before Swine. Quando eu estava navegando pelo site, após eu colocar o sinal do mouse sobre algumas palavras (eu não entendi de imediato o que significava porque estava em inglês, mas eu sabia que era alguma coisa ligada à comunicação), de repente apareceu na tela do computador um aviso: “envie uma mensagem para Tom Rapp”. Eu percebi então que eu poderia enviar uma mensagem para Tom Rapp. Eu envie um e-mail para ele, mas em português. Era apenas para verificava se aquilo funcionava. Um ou dois dias depois (23 de junho de 2001), quando eu abri meu e-mail (da yahoo), lá estava uma mensagem enviada por Tom Rapp. Eu quase não acreditei naquilo. Eu passei anos tentando falar com ele, eu não sabia nem se ele ainda estava vivo, e de repente havia uma mensagem dele para mim (este foi o primeiro e-mail que eu recebi na vida). Eu tirei uma cópia da mensagem e fui até a casa do Douglas. Eu estava nervoso e exaltado com aquele fato. Tom agradeceu minha mensagem, mas disse que infelizmente ele só sabia se comunicar em inglês e perguntou se eu poderia falar com ele dessa forma. Desde aquele dia iniciamos uma farta comunicação pela Internet. Em novembro de 2001, Tom me enviou seu novo Cd: “A Journal of the Plague Year”. Em 14 de fevereiro de 2002, eu enviei para Tom Rapp a nova edição do livro “As Flores” (1985). Foi uma nova edição porque agora tudo era impresso através da computador. Ter feito uma segunda edição do livro “As Flores” marcou a efetiva retomada das atividades da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Desde 1993, todos os textos da Editora Ogmios haviam sido guardados em uma maleta (incluindo outros documentos que comprovavam sua existência, como uma declaração assinada por mim, Heitor Meneses e Douglas Dias, em 25 de abril de 1993 – as fitas cassetes com as músicas foram guardadas em outro lugar, um pouco mais seguro). A umidade quase estragou alguns desses textos. Olhar para o que restou da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) foi como entrar em uma cidade destruída. Quando eu consegui me comunicar com Tom Rapp pela primeira vez, eu ainda não tinha repassado todos os textos para o computador. Assim, eu tive muito trabalho, arrumando todos os livros no computador. Tom Rapp adorou o presente. Ele disse: “I got the book and it’s GREAT. Thanks for the book and everything. It was wonderful to get it”. Ele me incentivou a continuar!!! Eu passei anos sendo fã de Tom Rapp e do Pearls Before Swine. Agora era Tom Rapp que era fã da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Isso era inacreditável!!!

 

Para enviar o livro “As Flores” para Tom Rapp, eu tive que fazer uma verdadeira operação de resgate na Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Desta forma, todos os livros passaram para o computador; poemas foram reconstituídos a partir do título: “O Sonho de João” (1982), “Isabelle”, “Ramza”, “Andréa” e “Silvana” (todos de 1984 – Do livro “Poemas”). Os poemas do livro “O Tecelão de Paisagens” (“Geração”, “No Frêmito dos Ventos Interiores”, “Os Sete Sátiros”, e “A Dança das Luzes”) também foram reconstituídas. Livros que ficaram incompletos (“Iluminuras” e “Guirlanda de Flores Sangrentas”), foram terminados. Foi uma verdadeira operação de resgate, uma verdadeira operação arqueológica.

 

Após falar com Tom Rapp, procurei falar com outros artistas. Em 2001 tentei falar com George Harrison, do Beatles, mas ele faleceu uma semana depois de eu ter enviado uma mensagem para o e-mail dele. Ninguém respondeu. Em 2002, eu conseguir falar com Meredith Monk. Recebi de Meredith Monk uma fotografia autografada, em maio de 2002 (o envelope estava com a data de 23 de maio de 2002). Tudo foi tão rápido que eu fiquei até assustado. Eu falei para ela sobre o novo poema que eu estava querendo escrever, que teria o título “Cartas para as Américas”, com poemas trabalhados com palavras de idiomas de todos os povos indígenas das Américas. Meredith Monk mostrou-se interessada em participar do poema “Cartas para as Américas”. Ela disse: “How would you want me to participate in ‘Letter To Americas”. Eu fiz a mesma proposta para Tom Rapp e ele também disse que queria participar. Este projeto ainda não foi realizado. Em 14 e 29 de agosto de 2002, dois exemplares do livro “Invocações” foram enviados para Nova Iorque. O primeiro foi para Meredith Monk e o segundo para Patti Smith e Lenny Kaye (os dois jamais enviaram respostas).

 

Também comecei a estabelecer comunicação com Phill Metzger, um cara de Nova Iorque que é amigo do Eric Burdon. Ele enviava meus e-mails para o Eric Burdon, mas o Eric jamais respondeu.

 

Alguém pode perguntar: por quê enviar e-mails e livros para artistas que moram nos Estados Unidos e na Europa? Eu respondo: porque são as pessoas que eu conheço e admiro. Eu não posso enviar mensagens e livros para o John que mora em Ohio, porque eu simplesmente não conheço nenhuma pessoa que se chama John e que mora em Ohio. Mas, eu conheço uma pessoa que tem o nome de Patti Smith e que mora em Nova Iorque. Eu não conheço esta mulher pessoalmente, mas conheço o trabalho que ela fez na música e na poesia, fato este que faz com que eu tenha alguma coisa em comum com ela. Esse é o motivo.

 

O dia 18 de setembro de 2002 marca o meu retorno à pintura: foram feitos dezessete pequenos trabalhos com tinta guache, em menos de 4 (quatro) horas. Este último episódio marca o retorno definitivo da EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM). Após eu ter feito estas pinturas, resolvi produzir dois livros de pintura: “Surrealística III” e “Surrealística IV”. O “Surrealística III” traz pinturas cujo tema principal é a bandeira americana. Já o “Surrealística IV” foi feito através de colagens de fotos de mulheres nuas retiradas da revista Playboy.

 

Em outubro de 2002, Tom Rapp me disse que ia participar de um festival: o Terrastock V, realizado em Boston, Massachusetts. Eu pedi para ele recitar um dos poemas do livro “As Flores” (1985) durante a apresentação que ele faria. Tom Rapp disse que iria recitar o poema “Lírio” em seu show, no festival Terrastock V. Porém, por problemas de tempo de apresentação não foi possível para ele realizar tal projeto. Entretanto, ele compôs uma música para o poema Lírio (Lily), que foi enviada para mim em novembro de 2002. Eu nunca imaginei que isto iria acontecer um dia: agora, eu tinha um trabalho em parceria com Tom Rapp.

 

 

O NOVO LIVRO-MÚSICA “WINONA E AS CADEIRAS DE RODAS” (SETEMBRO/OUTUBRO DE 2002 – JULHO DE 2005).

 

Foi por volta de setembro ou outubro de 2002 que eu decidi fazer um novo Livro-Música, e então eu tive a idéia de dar ao mesmo o título de “Winona e as Cadeiras de Rodas”, talvez inspirado no filme “Bram Stoker’s Dracula”, de Francis Ford Coppola. Eu sempre associe as cenas iniciais deste filme com os fatos ocorridos em 1987 com a minha avó. Assim, tirei o primeiro nome da atriz norte-americana Winona Ryder e formei o título “Winona e as Cadeiras de Rodas”. Obviamente, “cadeiras de rodas” é uma referência a doença de minha avó. O primeiro poema do livro teve como título “Adeus, Velho Lobo da Rua!” e é dedicado para um cachorro de rua que viveu perto da minha casa e foi atropelado em 2002. A música para este poema foi composta e gravada em julho de 2005. Não é uma música muito boa, mas eu gostei dela assim mesmo.

 

Em janeiro de 2003 eu escrevi o segundo poema do Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas”: Lourdes (Eu Vou Deturpar seu Espírito). Eu aproveitei o segundo nome de uma amiga: Adriana de Lourdes. O poema é totalmente inspirado no filme “Johnny vai à Guerra” (Johnny Got His Gun), vencedor do Grand Prix, da crítica internacional (Festival de Cannes, 1971) e do Prêmio de Ouro (Festival de Atlanta). As frases em latim foram retiradas de algumas letras das músicas do álbum “Mass In F Minor” (1967), do grupo The Electric Prunes. Trechos da canção “Parti de Mal”, da Idade Média, de autoria de um anônimo francês (composta em francês arcaico) também foram inseridos no poema. O terceiro poema do livro teve o título “Aonde Sonham Todas as Mulheres de Cabelos Cortados” e também foi escrito em janeiro de 2003. Este poema foi inspirado num trecho do filme Schindler’s List (A Lista de Schindler), do diretor Steven Spielberg. Eu não gosto muito dos filmes de Steven Spielberg. Portanto, foi uma grande surpresa quando eu vi o filme Schindler’s List (A Lista de Schindler). Eu fiquei encantado pela beleza e pela atuação da atriz Embeth Jean Davidtz (o poema é dedicado para ela). Neste poema há trechos dos poemas “Ce Qu’on Dit Au Poète à Propos de Fleurs” (O Que Dizem ao Poeta a Respeito das Flores) e “L’Angelot Maudit” (O Anjinho Maldito), de Arthur Rimbaud. Também há trechos do poema “Edge” (Auge), de Sylvia Plath. “Aonde Sonham Todas as Mulheres de Cabelos Cortados” foi dedicado também para Marina, uma amiga.

 

No dia 10 de fevereiro de 2003, eu decidi mudar de cidade e de emprego. Assim, naquele dia eu viajei para Santarém, uma cidade do interior do Estado do Pará, para trabalhar numa unidade da Universidade Luterana do Brasil. Foi graças a essa decisão que eu consegui dinheiro para comprar um teclado (um Yamaha PSR-260), um pedal de guitarra (um Zoom GFX-707) e uma guitarra elétrica (uma Gibson – Les Paul), além de poder comprar outras coisas também. Em 2002 eu não tinha dinheiro para sequer comprar roupas e sapatos decentes. Em suma, eu voltei finalmente a ser um cidadão, como eu fui entre 1994 e 1997.

 

No primeiro semestre de 2003, eu voltei a fazer música. A composição se chamou “Canção para Marina”. No segundo semestre do mesmo ano, após dezesseis anos do Livro-Música “Guirlanda de Flores Sangrentas”, eu voltei a fazer um novo Livro-Música: “Canções para Marina” (também dedicado para Marina, uma amiga). Este Livro-Música serviu como teste para o Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas”. Em outubro de 2003 eu compus as músicas “Rock and Roll (Parte II)”, Lourdes (Eu vou Deturpar seu Espírito)” e “Para Você”. No início de 2004 eu enviei para um amigo que reside na cidade de Montpellier, na França, uma espécie de compacto do Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” com as músicas e poemas acima mencionados. O nome do meu amigo é Marcos Borges de Lima e ele é casado com uma francesa. A mulher dele trabalhava, na época, numa rádio da cidade de Montpellier. Eu enviei o compacto “Winona e as Cadeiras de Rodas” para que ele tocasse as músicas e recitasse os poemas na rádio. Em agosto de 2004, Marcos Borges fez uma entrevista comigo (por telefone) e conforme o que ele e a mulher dele me disseram, as músicas, os poemas e a entrevista foram ao ar na rádio francesa em 2005. Foi o que eles me disseram. Mas eu não tenho comprovação material deste acontecimento.

 

Devido ao excesso de trabalho como professor e pesquisador do ILES-ULBRA (onde eu trabalho como professor do Curso de Direito: Direito Penal e Direito Processual Penal), o Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” teve que esperar um bom tempo para ser completado. Entre os meses de janeiro e julho de 2005, eu finalmente concluí o trabalho referente a este Livro-Música. No início, eu dividi o livro em três partes que teriam como títulos os nomes dos aviões B-29 que participaram das operações de lançamento das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Quando eu era criança, eu tive vários aviões da Segunda Guerra Mundial e o avião que eu mais gostava era o B-29. Entretanto, com o passar do tempo e tomando consciência da grande tragédia das duas cidades japonesas, eu revi minha admiração pelo avião. Eu mudei de idéia e coloquei o nome de outros aviões da Segunda Guerra Mundial. Assim, a primeiro parte do livro se chama “JEIAWAD – B-17”. JEIAWAD são as letras iniciais dos nomes das mulheres e namoradas dos membros da equipe de um bombardeiro B-17, também conhecido como “Fortaleza Voadora”. A segunda parte tem o título de “Necessary Evil – B-29”, que foi um dos aviões que participaram do lançamento da Bomba Atômica em Hiroshima. A Parte III tem o título de “Ave Maria – B-25”, outro avião da Segunda Guerra Mundial. O Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” foi dedicado a Tom Rapp e Meredith Monk, e há uma homenagem póstuma para John Fahey. Eu conheci a música de John Fahey em 1981, através da trilha sonora do filme “Zabriskie Point” (1969), de Michelangelo Antonioni. Porém, somente em 2002 eu pude ter um maior contato com a obra que ele havia produzido. Fiquei tão fascinado pela música dele que cheguei a colocar um subtítulo no Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas”: “A Ressurreição de Blind Joe Death”, uma referência a um de seus álbuns: The Transfiguration of Blind Joe Death. Na capa deste álbum, um garoto aparece saindo da terra, e há animais em volta dele. Outra questão sobre a minha admiração pela obra de John Fahey é a obsessão dele pela palavra “Death” (morte). Cada poema do Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” é dedicado a uma cidade americana. Trata-se de uma homenagem.

 

O Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” abre com a versão musical que Tom Rapp fez para o poema “Lírio” em 2002 (Lily - Overture). A parte com o piano foi feita por mim com base na música que ele fez para o meu poema. Portanto, a música é dele e não minha. Em seguida vem Rock and Roll (Parte I) - (Ela Brilha como Mil Sóis). Esta música foi a sobra de um ensaio da música Rock and Roll (Parte II), feita em 2003. Eu acrescentei um órgão e no fim da música podemos ouvir parte de uma música antiga que fecha o filme “O Iluminado” (The Shining), de Stanley Kubrick. “Soundtrack to War” é um poema que fala de guerra. Eu utilizei diálogos e frases dos filmes “Nascido para Matar” (Full Metal Jacket), de Stanley Kubrick, “Fahrenheit 9/11”, de Michael Moore, “South Park: Bigger, Longer & Uncut”, de Trey Parker, e “Fritz The Cat”, além de frases das músicas “Fire Water Burn”, do grupo Bloodhound Gang, e “Wooly Bully”, do grupo Sam The Sham & The Pharoahs. “The Blair Witch” (música e poesia) foi inspirado no filme “The Blair Witch Project”. Eu fiquei bastante impressionado quando vi este filme: primeiro, porque não é uma encenação, as cenas são reais. Depois, a história dos fatos estranhos que acontecem de 50 em 50 anos, desde o século XVIII, naquela região, é fascinante, misteriosa e assustadora. Existe uma entidade poderosa naquele lugar. Os filmes “A Bruxa de Blair” e “O Exorcista” são filmes que me deixam arrepiados. A música “The Blair Witch” começa e termina com os gritos dos garotos na floresta (retirados do filme). A música é um longo solo de banjo. “Beauty” é dedicado inteiramente para Jennifer Connelly, uma grande atriz americana. O poema tem frases dos filmes “Casa de Areia e Névoa” (House of Sand and Fog, dirigido por Vadim Perelman) e “Amor Maior que a Vida” (Waking the Dead, dirigido por Keith Gordon). A música feita para o poema tem influência da música Amazônica. Eu conheci o trabalho de Jennifer Connely através do filme “A Cidade das Sombras” (“Dark City”, escrito e dirigido por Alex Proyas). Depois vi outros filmes em que ela atua. É impossível não se apaixonar por ela. O poema “Para Chanichi Tetsutani, Reiko Watanabe e Kengo Nakawa, em Hiroshima” é dedicado para três pessoas que morreram na explosão da bomba atômica em Hiroshima, no Japão, em 1945. A música é uma marcha fúnebre. “Tashunka Witko & Tatanka Yotanka” é uma homenagem a dois índios da nação Sioux (Estados Unidos): Cavalo Doido e Touro Sentado. O poema “Láquesis, Cloto e Átropo (As Ruas)” foi inspirado na obra “A República”, de Platão, e tem diversas citações da Bíblia (O Livro de Jó), da série para a televisão alemão “Berlin Alexander Platz”, dirigido por Fassbinder, e do filme “Requiem para um Sonho” (Requiem for a Dream, dirigido por Darren Aronofsky). “Bremen (Sugar Plum Fairy)” é dedicado para Olga, Ana Preta, Preto e Branquinho. Neste poema há referências aos filmes Reencarnação (Birth, dirigido por Jonathan Glazer) e Os Outros (The Others, dirigido por Alejandro Amenábar), ambos tendo como atriz principal a belíssima atriz Nicole Kidman. Essas duas últimas músicas fecham o Cd II e foram feitas da mesma forma que eu fiz as músicas para os Livros-Música “O Tecelão de Paisagens” e “Iluminuras”, em 1986. “Winona e as Cadeiras de Rodas” foi um bom trabalho, tanto em termos de música, como em termos de poesia e pintura. Há uma variedade de estilos musicais: rock and roll, punk, funk, música erudita, música amazônica, bossa nova, folk music, colagem musical, etc. Algumas músicas se repetem com algumas variações: Rock and Roll (Partes I e II), “Jesus não está em Tucson” e “Jesus Não Está em San Diego”. Os poemas são variados, com frases em português, inglês, espanhol e francês, e há citações de poemas de Walt Whitman (Canto de mim mesmo - poema “Rock and Roll-Parte I”), T.S. Eliot (The Hollow Men – poema “Derrame Cerebral”) e William Carlos Williams (“Elena” - poema “Derrame Cerebral”). As três pinturas feitas para o livro têm um aspecto soturno e misterioso. Foi um Livro-Música muito bom, embora não supere os Livros-Música “Iluminuras” (1986) e “Guirlanda de Flores Sangrentas” (1987), na minha opinião.

 

 

NEW YORK/ PARIS (JUNHO DE 2004 – JULHO DE 2005).

 

Juntamente com o Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas”, outro Livro-Música foi produzido no mesmo período, embora tenha começado em junho de 2004: “New York/ Paris”. A idéia de fazer este Livro-Música surgiu no dia 13 de junho de 2004, quando eu estava assistindo o filme “Matrix – Revolutions”. A música que fecha o filme chamou minha atenção. Na noite daquele dia eu comecei a brincar com o meu teclado, conectando o mesmo ao pedal de guitarra (Zoom GFX-707). Foi assim que a música “New York” surgiu. A música “Paris” foi composta e gravada na madrugada do dia 14 de junho de 2004. Os poemas feitos para acompanhar as duas músicas foram escritos entre novembro de 2004 e julho de 2005. Os dois poemas foram construídos a partir de frases tiradas de vários filmes, como também de partes de canções e poemas de outros artistas, e também pedaços de notícias tiradas dos jornais The New York Times e Le Monde. O poema “New York” foi construído a partir de frases dos seguintes filmes: “Os Contos de Canterbury” (The Canterbury Tales, dirigido por Pier Paolo Pasolini e baseado na obra de Geoffrey Chaucer), “O Decamerão” (The Decameron, dirigido por Pier Paolo Pasolini e baseado na obra de Boccaccio), “A Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange, dirigido por Stanley Kubrick e baseado na novela de Anthony Burgess), “O Advogado do Diabo” (The Devil’s Advocate, dirigido por Taylor Hackford e baseado na novela de Andrew Neiderman), “Morangos Silvestres” (Smultronstället, escrito e dirigido por Ingmar Bergman) e “A Cidade das Sombras” (Dark City, escrito e dirigido por Alex Proyas). O poema “Paris” foi construído a partir dos diálogos do filme “Irreversível” (Irréversible, dirigido por Gaspar Noé), além de ter um trecho do hino francês, um verso de uma das músicas dos Beatles, um verso de um poema do poeta francês Arthur Rimbaud, e referências a um artigo escrito pelo brasileiro Santos Dumont, inventor do avião, além de outras referências. O Livro-Música “New York – Paris” foi escrito e dedicado para estas duas cidades porque elas foram as primeiras cidades em que o nome da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) /Gravadora Arte Degenerada foi ouvido, conforme o que foi dito acima (depois de Belém, é claro).

 

Tanto o Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas”, como o Livro-Música “New York/ Paris” foram construídos a partir da mistura de várias frases e trechos de poemas e diálogos de filmes. Em algumas músicas (Rock and Roll – Parte I e The Blair Witch) há pequenos trechos de filmes. Pode parecer que eu violei os direitos autorais de alguns autores, diretores, intérpretes e compositores. Na realidade, isto não aconteceu. As referências encontradas nestes dois Livros-Música, tanto em nível poético como em nível musical, funcionam apenas como citações de trechos de filmes, poemas e reportagens, em sua maioria frases pequenas que podem ser ouvidas diariamente nas ruas de qualquer grande cidade. Portanto, não há plágio, violação, transgressão, ou ofensa a direitos autorais, até porque as fontes utilizadas estão sendo nominalmente informadas neste texto. O artigo 46, da Lei Brasileira nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, a qual trata da questão dos direito autorais, dispõe que: “Não constitui ofensa aos direitos autorais: III – a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra.” No que diz respeito as músicas, não podem nem mesmo ser reproduzidas a partir deste site. Por último, os dois Livros-Música ainda não estão sendo vendidos, portanto, não há atividade comercial. Porém, se houver alguma reclamação, os trechos dos filmes inseridos nas músicas do Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” serão imediatamente retirados. Eu recordo aqui a obra do poeta Isidore Ducasse, o Conde de Lautréamont (também conhecido como Maldoror): seu segundo e último livro (Poésies), que foi publicado em 1870, consistiu em pensamentos retirados das obras de vários autores. Ducasse, entretanto, alterou essas sentenças, tornando-as dele. Isidore teria dito: “O plágio é necessário. O progresso o implica. Ele agarra de perto a frase de um autor, usa suas expressões, apaga uma idéia falsa, troca-a por uma idéia justa”.

 

 

 

SOBRE ESTE SITE.

 

Em maio de 2005 eu dei início à construção deste site. Foi uma forma de legitimar e divulgar o trabalho feito na Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Arte Degenerada. Este site foi concluído em outubro de 2005 e contêm músicas, poemas, pinturas, fotografias e trechos de vídeo. Todos os poemas e músicas dos Livros-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” e “New York/ Paris” foram colocados neste site. Em relação ao Livro-Música “Canções para Marina”, alguns poemas e músicas foram omitidos por questões particulares. Com relação aos antigos trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada, somente algumas músicas dos Livro-Música “O Tecelão de Paisagens”, “Iluminuras” e “Guirlanda de Flores Sangrentas” foram inseridas neste site. Na verdade, as músicas do período 1981-1988 são do Livro-Música “O Último Círculo de Pedras”, que é uma coletânea de músicas e poemas, como já foi dito acima. Com relação aos livros antigos (período 1984-1993), todos foram inseridos neste site. Quase todas as pinturas produzidas em 2002 e 2005 também foram inseridas neste site.

 

Além deste site, eu enviei os Livros-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” e “New York/ Paris” para diversas autoridades e instituições brasileiras e internacionais. Alguns amigos (brasileiros, americanos e franceses) também receberam as obras citadas acima.

 

Foi um alívio para mim terminar este site. Foi uma forma de legitimar, preservar e divulgar os trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada. Por mais de uma década eu tive o verdadeiro receio de que estes trabalhos se deteriorassem, principalmente as fitas cassetes que continham as músicas. Eu espero que as pessoas gostem destes trabalhos, mas eu não estou muito preocupado com o que as pessoas possam pensar sobre as minhas músicas, poemas e pinturas. Foi por este motivo que eu fiz a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada: para não receber ordens de ninguém. Eu não tenho que me preocupar com apresentações ao vivo, sucesso, críticas, etc. Isso nunca existiu na Editora Ogmios (Seaculum Obscurum). Eu também não estou interessado na opinião negativa que as pessoas possam ter sobre a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum).

 

Agora, se você gostou do trabalho, enviei seus elogios. Agora, você pode ter um amplo acesso aos trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Arte Degenerada e eu espero que você goste dos trabalhos que foram realizados ao longo de todos esses anos. Os poemas, músicas e pinturas que eu fiz ao longo de mais de vinte anos falam de seres fantásticos, visões, homossexuais, prostitutas, vagabundos, misérias, medos, ambições, esperanças, etc. Trata-se, portanto, de um nítido retrato do que eu vi e testemunhei em minha vida. Há uma grande influência do surrealismo, do impressionismo, do cubismo, da poesia underground, da música punk, da música erudita, da música folk, do cinema, enfim, há influências de diversas fontes.

 

A obra completa da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum), terá o seguinte título: “Veio do Pó e Virou Resto HumanoSEACULUM OBSCURUM ” (o título foi retirado de um verso do livro “Invocações”).

 

Falando de forma bastante pessoal, eu jamais me considerei um poeta. Na verdade, eu sou um construtor de frases e palavras dispersas. Da mesma forma, eu jamais me considerei um músico. Eu sou apenas um construtor de notas musicais dispersas, estranhas e distorcidas. Também eu não me considero um pintor. Eu sou um construtor de cores e formas abstratas. Em resumo: o meu ofício é juntar palavras, sons e cores num grande emaranhado de significados distorcidos, tendo como base a realidade do mundo. A realidade é e sempre será assim. Portanto, eu não tenho compromissos com a beleza, com a harmonia, com a loucura, com a feiura ou com a lógica. Tudo isso está misturado no meu trabalho.

 

Às vezes, eu penso que se eu tivesse nascido nos Estados Unidos ou num país da Europa Ocidental, talvez eu tivesse tido mais chance para produzir um trabalho melhor e mais consistente. Imagine você o que eu poderia ter feito no estúdio de uma grande gravadora, na América ou na Europa, com instrumentos musicais variados e sofisticados, e tendo acesso a vários livros, escritos em diversas línguas. Eu teria feito um Livro-Música por mês! Mas, se eu tivesse nascido lá, talvez nada disso tivesse acontecido. A Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) e a Gravadora Arte Degenerada nasceram da mistura de diversos fatores. Tudo aconteceu como deveria ter acontecido, numa sucessão de fatos que foram se encaixando ao longo do tempo. Eu recordo uma frase dita por Hermann Hesse: “Nada acontece casualmente. Aqui só se encontram os convidados certos: este é o círculo hermético”.

 

I WISH I WAS A SINGLE GIRL AGAIN

 

Santarém (PA), maio/junho de 2005.

 

Marco Alexandre Rosário

 

EDITORA MORANGOS E UVAS (SEACULUM OBSCURUM)

EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)

GRAVADORA ARTE DEGENERADA

 

(1984-2005)

 

site: www.seaculumobscurum.com

 

Tudo o que é esquecido

permanece em sonhos obscuros do passado...

ameaçando sempre retornar.”

(Velvet Goldmine)

 

e-mail: Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

A CONTINUAÇÃO DA HISTÓRIA DA

EDITORA OGMIOS

(SEACULUM OBSCURUM)

GRAVADORA

ARTE DEGENERADA

NO PERÍODO DE 2005 A 2016.

 

 

 

 

 

 

 

 

DIVULGANDO OS TRABALHOS E O WEBSITE WWW.SEACULUMOBSCURUM.COM, DA EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM) – GRAVADORA ARTE DEGENERADA, NO MUNDO (2005).

 

Depois que o website www.seaculumobscurum.com foi lançado na Internet, em junho de 2005, passei a divulgar o mesmo (um processo de divulgação muito restrito a amigos e Instituições). Enviei exemplares dos Livros-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” e “New York/Paris” para algumas autoridades e artistas. Os dois Livros-Música foram enviados para o Presidente dos Estados Unidos da América, Sr. George W. Bush, na Casa Branca (o correio americano teve que ir até a Casa Branca três vezes para conseguir entregar a encomenda); para o Presidente do Brasil, Sr. Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto/Brasília; para a Embaixada dos Estados Unidos da América, em Brasília, no Brasil; para o Ministro da Cultura do Brasil, o compositor/músico Gilberto Gil, em Brasília; e também para os músicos americanos Tom Rapp (Melbournne, Flórida-USA) e Meredith Monk (Nova Iorque, NY-USA). Também enviei as obras citadas para alguns amigos em Belém e em Brasília. O Livro-Música “New York/Paris” (somente ele) foi enviado para a Prefeitura da cidade de Nova Iorque/NY-USA (Prefeito Michael Bloomberg), para a Embaixada da França no Brasil e também para alguns amigos em Belém e em Nova Iorque.

 

Naquela época eu telefonava constantemente para a Embaixada Americana no Brasil (em Brasília), para o Palácio do Planalto e para o Ministério da Cultura do Brasil e fiquei conhecido nestes lugares. Eu também costumava telefonar para as Embaixadas do Canadá, de Cuba, da Venezuela e da França. Eu sempre gostei de conhecer pessoas. Assim, achei que eles não se importariam se eu telefonasse vez por outra, já que era eu que estava pagando a conta de telefone. Lembro que cheguei a fazer amizade com as funcionárias do Palácio do Planalto, do Ministério da Cultura, da Embaixada Americana e da Embaixada Cubana. E assim eu estava divulgando os trabalhos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum) – Gravadora Arte Degenerada, e mantendo os velhos ideais hippies de Haight/Hasbury (San Francisco, Califórnia/USA), dos quais a Editora Ogmios era uma herdeira direta. Esta foi a maior divulgação que a Editora Ogmios teve até então.

 

O DVD “STARS OPEN AMONG THE LILIES – I AM TOO PURE FOR YOU OR ANYONE – 2005/2007.

 

Ainda em 2005, iniciamos as filmagens do documentário sobre a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada, o qual teve o título de “Stars Open Among The Lilies – I am too pure for you or anyone” (em português: “Estrelas se Abrem entre Lírios – Eu sou pura demais para você ou qualquer um”). O título do DVD foi a junção de dois versos de dois poemas da poetisa americana Sylvia Plath: “Crossing the Water” e “Fever 103º”. O Documentário foi filmado em duas sessões nos anos de 2005 e 2007 e consistia basicamente em imagens tendo eu tocando as músicas da Seaculum Obscurum, tanto músicas compostas na década de 1980 do século XX, como músicas compostas no século XXI. Havia cenas com filmagens dos Livros de poesia e de pintura e dos Livros-Músicas. O responsável pelas filmagens e fotografias foi Daniel Vasconcelos, e os responsáveis pela edição foram Erineldes Silva e Cristiane Carvalho. E eu fui o diretor do documentário, finalmente saciando minha sede de dirigir um filme.

 

Havia também um vídeo-clip com a música “Lily (Overture)” (poema de Marco Rosário/1985 e música/canto de Tom Rapp/2002, que foi lançado no Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas”, em 2005, no site www.seaculumobscurum.com).

 

Na sessão de filmagens de 2007, eu compus e gravei a música “The Zodiac”, com a guitarra Gibson Les Paul e o pedal de guitarra (Zoom GFX-707 – Guitar Effects Processor), tendo o órgão ao fundo (teclado Yamaha). Foi a primeira e única música da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/ Gravadora Arte Degenerada que foi gravada e filmada simultaneamente.

 

A produção do DVD foi muito precária, pois foi filmada e editada por pessoas que não tinham experiência neste ramo. Mas, a idéia do DVD era justamente mostrar eu tocando as minhas composições, sendo uma forma de garantir direitos autorais sobre as mesmas (da mesma forma que fora o envio dos Livros-Música para autoridades nacionais e estrangeiras em 2005).

 

APRESENTAÇÃO NA UFPA/CAMPUS SANTARÉM, NO 1º SEMESTRE DE 2007 – PRIMEIRA APRESENTAÇÃO DA EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)/GRAVADORA ARTE DEGENERADA AO VIVO.

 

No primeiro semestre de 2007 eu fui convidado para participar de um pequeno festival de rock que aconteceu na UFPA/Campus Santarém, onde eu trabalhava como Professor Substituto.

 

O Festival de Rock foi realizado durante a noite. Foi a primeira vez que a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada subiu num palco. Na verdade, era um festival de heavy metal, com bandas de garotos. Quando eles me viram com uma guitarra Gibson Les Paul ficaram indignados comigo.

 

Eu havia bebido o dia inteiro e estava bêbado no momento da apresentação. Eu nunca havia subido num palco antes. Foi então que eu entendi o por quê desses artistas famosos usarem drogas para tocar ao vivo. Quando eu subi no palco e vi aquela multidão (umas cem pessoas estava presentes), lembro que o medo me subiu pela espinha e eu fiquei sóbrio imediatamente. Porque realmente dá medo ver uma multidão daquelas. Fico imaginando o que devem sentir os artistas e músicos de bandas famosas diante de multidões de milhares de pessoas.

 

Toquei somente uma música: “The Zodiac”, que eu acabara de gravar e filmar para o DVD/Documentário, e que deve ter levado uns 10 minutos ao vivo. Eu lembro de ter dito apenas uma coisa no microfone: “Esta música se chama ‘The Zodiac’ e foi composta em homenagem à um assassino americano”... e comecei a tocar. Eu havia esquecido em casa o slide para passar sobre as cordas da guitarra e acabei fazendo isso com o meu isqueiro. Por mais incrível que possa parecer, o publico gostou e aplaudiu aquilo tudo.

 

Os garotos das outras bandas, ainda indignados por eu ter levado uma guitarra Gibson Les Paul, não deixaram eu tocar a segunda música, que seria “Rock and Roll”, e me colocaram para fora do palco, o que para mim acabou sendo um alívio.

 

Quando eu ia saindo da UFPA/Campus Santarém, duas garotas, que caminhavam na minha frente, começaram a comentar o evento e uma delas disse para a outra: “O show foi uma merda. Só banda ruim. A única coisa que prestou foi aquele cara velho tocando guitarra sozinho”. E a outra confirmou: “É. Foi a única coisa que prestou. Valeu o ingresso”. Foi aí que elas perceberam que eu estava atrás delas.

 

O LIVRO-MÚSICA “GREAT PARTY, ISN’T IT?”

(JANEIRO DE 2008)

 

O último trabalho da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada foi o Livro-Música “Great Party, Isn’t It?”. O título foi tirado de uma cena do filme “O Iluminado” (The Shining), dirigido por Stanley Kubrick (roteiro de Stanley Kubrick e Diane Johnson), baseado no livro do escritor americano Stephen King. Esta mesma frase já constava no Poema/Música “Rock and Roll (Parte I - Ela Brilha Como Mil Sóis)”, do Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” (2002/2005).

 

Eu vi o filme “O Iluminado” (The Shining) no começo da década de 1980, provavelmente quando ele foi lançado no Brasil pela primeira vez. Acho que vi este filme novamente na primeira década do século XXI e adorei o filme. Mas, eu ainda não sabia que o filme havia sido feito com base num livro de Stephen King. Na época eu considerava Stephen King um daqueles escritores que escrevem best Sellers para ganhar dinheiro, sem nenhum compromisso com as artes. Puro preconceito de minha parte, pois depois vi que se tratava de um grande escritor, provavelmente o maior escritor americano da atualidade. Mas, então, vi outro filme com base em outro livro de Stephen King, e outro, e outro... e comecei a comprar os livros (em língua portuguesa) e acabei me tornando um fã do escritor americano. E foi por isso que o Livro-Música “Great Party, Isn’t It?” foi dedicado a Stephen King. Foi uma tentativa de unir o gênero suspense e o cinema com a poesia (as obras de Stephen King são excelentes para se transformar em filmes, o que é confirmado até pela Escola de Cinema de Cuba).

 

O Livro-Música “Great Party, Isn’t It?” tem início com a música “The Zodiac”, que eu havia composto no primeiro semestre de 2007 para a segunda parte de sessões do documentário “Stars Open Among The Lilies – I am too pure for you or anyone” (DVD). Porém, o citado Livro-Música foi quase que inteiramente feito no mês de janeiro de 2008 (poesias e músicas, não havia pinturas). E foi feito muito rápido, pois eu estava indo embora de Santarém, pois eu havia pedido demissão do CEULS/ULBRA em setembro de 2007 e estava trabalhando apenas como Professor Substituto do Curso de Direito da UFPA/Campus Santarém e meu contrato seria encerrado em fevereiro de 2008. Ou seja, eu teria que sair da cidade de Santarém e ter que voltar para Belém novamente. Já estava quase tudo certo para eu voltar para Belém, quando resolvi fazer Concurso Público para Professor de Cargo Efetivo do Curso de Direito da Universidade Federal do Pará-UFPA (Campus Marabá). Em dezembro de 2007, fui até Belém e fiz o Concurso Público e fui aprovado em 1º lugar. Assim, eu não iria mais voltar a morar em Belém, e sim iria morar em Marabá, cidade do sudeste do Estado do Pará, conhecida pela fama de ser uma cidade de pistoleiros, como no velho oeste americano, que eu também não conhecia. Pelo menos foi isto que me disseram de Marabá.

 

Deste forma, o Livro-Música “Great Party, Isn’t It?” teve de ser feito “às pressas”, o que causou um certo toque de obra incompleta no caso dos poemas. Mas, as músicas ficaram muito boas, eu diria. Foram apenas cinco poemas-música. E o primeiro deles foi “The Zodiac”.

 

The Zodiac(poema/colagem ou poema/montagem, ou ainda poema cinematográfico) diz respeito ao famoso assassino que aterrorizou a baía de San Francisco, Califórnia, no final da década de 1960 e início da década de 1970. O assassino se intitulava “O Zodíaco”. O poema foi feito a partir das cartas que o assassino enviava para os jornais de San Francisco (San Francisco Chronicle e San Francisco Examiner), ou seja, os versos são frases do próprio assassino (tiradas do filme “The Zodiac”, dirigido por Alexander Bulkley, roteiro de Kelly Bulkley e Alexander Bulkley). Também foram utilizados no poema frases dos filmes “O Planeta dos Macacos” (“Planet of the Apes”/1968, dirigido por Franklin J. Schaffner, com roteiro de Michael Wilson e Rod Serling, baseado na obra “La Planète des Singes”, de Pierre Boulle, de 1963), “Volta ao Planeta dos Macacos” (“Beneath the Planet of the Apes”/1970, dirigido por Ted Post, com roteiro de Paul Dehn, baseado na obra “La Planète des Singes”, de Pierre Boulle), “A Máquina do Tempo” (“The Time Machine”, dirigido por Simon Wells, roteiro de John Logan, baseado no livro “The Time Machine”, de H. G. Wells), e “Montado na Bala” (“Riding The Bullet”, direção e roteiro de Mick Garris, baseado na obra “Riding The Bullet”, de Stephen King).

 

Este assassino nunca foi preso e o caso foi arquivado pela polícia e dado como inconclusivo em 2004. Jamais descobriram a identidade dele. Com relação a este poema/música tenho a dizer que o mesmo é, na verdade, uma crítica ao assassino, e não uma exaltação do mesmo. O método de matar do Zodíaco se espalhou pelo mundo e hoje em dia podemos ver pessoas matando do mesmo modo como ele fez no passado, inclusive em Marabá, o que é lamentável. Eu mesmo vi uma execução em Marabá nos mesmos moldes das realizadas pelo Zodíaco em San Francisco, Califórnia-USA. Mas, graças a Deus, ele nunca apareceu na porta da minha casa cobrando explicações sobre este poema/música. Outros compositores também fizeram músicas tendo o Zodíaco como referência.

 

Eis o poema na íntegra:

 

THE ZODIAC

 

THIS IS THE ZODIAC SPEAKING

 

I WANT TO REPORT A DOUBLE MURDER

 

THE FUTURE IS NOW

 

I LIKE KILLING PEOPLE BECAUSE IT IS SO MUCH FUN,

MORE FUN THAN KILLING WILD GAME IN THE FOREST.

MAN IS THE MOST DANGEROUS ANIMAL OF ALL TO KILL

SOMETHING THAT GIVES ME THE MOST

THRILLING EXPERIENCE.

 

THE FUTURE IS NOW

 

THE BOMB IS A HOLY WEAPON OF PEACE!!!

 

THE BULLET IS ALWAYS THERE

 

THE BULLET IS CONSTANT

 

IT IS EVEN BETTER THAN GETTING

YOUR ROCKS OFF WITH A GIRL.

I WILL NOT GIVE YOU MY NAME

BECAUSE YOU WILL TRY TO SLOW DOWN OR

STOP MY COLLECTION OF SLAVES

 

HUMAN SEE – HUMAN DO

HUMAN SEE – HUMAN DO

HUMAN SEE – HUMAN DO

HUMAN SEE – HUMAN DO

HUMAN SEE – HUMAN DO

HUMAN SEE – HUMAN DO

HUMAN SEE – HUMAN DO

HUMAN SEE – HUMAN DO

 

I CAN LOOK INSIDE YOUR MEMORIES...

 

THE FUTURE IS NOW

 

THEY ARE TO FIND CITY OF THE DEAD

 

YOUR NIGHTMARES... YOUR DREAMS

 

THE FUTURE IS NOW

 

THE BULLET

 

YOU ARE THE INESCAPABLE RESULT OF YOUR TRAGEDY

 

DEAR EDITOR

 

YOU HAVE YOUR ANSWER

 

THE BULLET

 

THIS IS THE MURDERER

 

CIPHER

 

I WANT YOU TO PRINT THE CIPHER

 

CIPHER

 

MY IDENTITY

 

CIPHER

 

SAN FRANCISCO CHRONICLE

 

CIPHER

 

SAN FRANCISCO EXAMINER

 

CIPHER

 

TAKE YOUR STINKING PAWS OFF ME, YOU DAMN DIRTY APE!

 

VIOLENCE IS NECESSARY

 

CIPHER

 

THE BULLET

 

PEACE AND LOVE

PEACE AND LOVE

PEACE AND LOVE

PEACE AND LOVE

PEACE AND LOVE

 

ALMIGHTY BOMB

WHO DESTROYED ALL DEVILS

AND CREATED ANGELS

BEHOLD THIS MOMENT

BEHOLD THE TRUTH THAT ABIDES IN US

 

REVEAL THAT TRUTH UNTO THAT MAKER

 

I’M WAITING FOR A

GOOD MOVIE ABOUT ME.

 

WHO WILL PRAY ME?

 

I AM NOW IN CONTROL OF ALL THINGS.

 

No final do poema, podemos ler um trecho da última carta enviada pelo Zodíaco à Polícia, em 1978: “Estou esperando por um bom filme sobre mim. Quem vai me interpretar? Agora eu estou no controle de todas as coisas”.

 

London” é o segundo poema-música (poema/colagem ou poema/montagem, ou ainda poema cinematográfico) de “Great Party, Isn’t It?” e, evidentemente, é uma homenagem à cidade de Londres (Inglaterra). Nos anos 1980 do século XX as cidades que eu tinha interesse em conhecer eram San Francisco, na Califórnia (USA), e Londres (Inglaterra) por causa do Movimento de Contracultura que estas cidades tinham em meados dos anos 1960 do século passado. Eu era fascinado principalmente por San Francisco e pelo Movimento Hippie, o que muito influenciou a fundação e criação da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada e tudo o que nela foi feito. Londres também era a terra prometida do psicodelismo europeu, com a música dos Beatles, dos Stones, do The Who, do Pink Floyd, de Eric Burdon and New The Animals e muitos mais. Assim, resolvi fazer uma homenagem à cidade de Londres. O poema, que foi dividido em três partes (Phase I, II e III; esta idéia foi inspirada num documentário sobre a batalha da Grã-Bretanha na II Guerra Mundial), foi inspirado pelo filme “A Zona Misteriosa” (“Crouch End”, dirigido por Mark Haber e com roteiro de Kim LeMasters, baseado numa pequena estória de Stephen King). Deste forma, o poema tem algumas frases faladas no filme. Também há citações dos filmes “Drácula de Bram Stoker” (“Bram Stoker’s Dracula”, dirigido por Francis Ford Coppola e com roteiro de James V. Hart, baseado na obra de Bram Stoker), “A Revolução do Bichos” (“Animal Farm”, dirigido por John Stepheson e com roteiro de Alan Janes e Martyn Burke, baseado na obra de George Orwell), e “Montado na Bala” (“Riding The Bullet”, direção e roteiro de Mick Garris, baseado na obra “Riding The Bullet”, de Stephen King).

 

As palavras “CTHULU”, “NRTESN NYARLAHOTEP”, “R`YELEH” e “YOGSOGGOTH”, que aparecem no filme “A Zona Misteriosa” e que estão no poema, são expressões criadas pelo escritor americano H. P. Lovecraft (Howard Phillips Lovecraft, 1890-1937). Na época em que “montei” o poema “London” eu não sabia disso. Eu conhecia H. P. Lovecraft desde a década de 1980 (eu tinha um conto dele numa revista), mas jamais tinha lido nada sobre ele ou que ele tivesse escrito. Mas eu achava o sobrenome bonito: Lovecraft. Ao longo dos anos eu comprei alguns livros dele, mas nunca lia os mesmos. Mas, no final de 2015, por algum motivo que eu não sei dizer, numa bela noite, apanhei um dos livros dele na estante e comecei a ler. Ache aquilo fantástico, maravilhoso e virei fã do homem imediatamente. Na verdade, H. P. Lovecraft é uma das principais referências de Stephen King. E também H. P. Lovecraft foi muito influenciado pelo grande escritor americano Edgar Allan Poe, de quem eu sou um grande admirador. Mas, a verdade é que nunca mais deixei de ler os livros de H. P. Lovecraft.

 

O terceiro poema-música (poema/colagem ou poema/montagem, ou ainda poema cinematográfico), também uma pequena obra, teve o nome de “Paige and Loren”, inspirado nas atrizes pornôs Haley Paige e Dillan Loren. Para montar o poema, eu utilizei frase dos filmes “Coração Satânico” (“Angel’s Heart”, com direção e roteiro de Alan Parker, baseado no livro “Falling Angel”, de William Hjortsberg), e “A Máquina do Tempo” (“The Time Machine”, dirigido por Simon Wells, roteiro de John Logan, baseado no livro “The Time Machine”, de H. G. Wells), e há pequenas referências a outros filmes. Trata-se de um poema um pouco fora do contexto do chamado “Poema/Suspense”, mas, de certa forma, tem ligação com a “Grande Festa”. A música para o poema foi composta e gravada no meu velho violão Del Vecchio.

 

O quarto poema-música (poema/colagem ou poema/montagem, ou ainda poema cinematográfico) do Livro-Música “Great Party, Isn’t It?” foi a pequena obra “A Rainha Sem Nome”, todo escrito em língua portuguesa. Trata-se de um daqueles poemas da Seaculum Obscurum que têm como tema fadas e seres fantásticos. A música foi composta e gravada com a guitarra Gibson Les Paul e com o pedal de guitarra (a bateria é do pedal), incluindo também o teclado Yamaha. Trata-se de uma música com características psicodélicas e surrealistas.

 

O quinto e último poema-música do Livro-Música “Great Party, Isn’t It?” tem o nome de “Amazônia”, e trata-se de outro “poema/colagem” ou “poema/montagem”, ou ainda “poema cinematográfico”, como vários poemas feitos desde o Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas”, e que é, de certa forma, a principal experiência poética da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada no século XXI. No poema, utilizei frases dos filmes “Razões para a Guerra” (“Why We Fight”, com direção e roteiro de Eugene Jarecki – trata-se de um documentário sobre a questão da guerra nos USA), “O Planeta dos Macacos” (“Planet of the Apes”/1968, dirigido por Franklin J. Schaffner, com roteiro de Michael Wilson e Rod Serling, baseado na obra “La Planète des Singes”, de Pierre Boulle), e “Montado na Bala” (“Riding The Bullet”, direção e roteiro de Mick Garris, baseado na obra “Riding The Bullet”, de Stephen King). Também há citações de nomes de cidades da Amazônia Brasileira. O poema traz uma visão apocalíptica sobre a Amazônia, é uma crítica à destruição da floresta e da cultura indígena. Já a música traz influência de várias fontes, como Velvet Underground, MC5, Gyögy Ligeti, música erudita, música de vanguarda, etc. Nesta música eu toco teclados, flauta, banjo americano, violão (o velho amigo Del Vecchio), harpa nordestina (na verdade, o nome do instrumento é “saltério”), gaitas, carrilhão, prato e instrumentos indígenas, e faço toda a percussão com o pedal de guitarra.

 

Todas as músicas do Livro-Música “Great Party, Isn’t It?” foram gravadas num único canal, ou seja, num gravador, e utilizei o antigo método de gravação da década 1980 do século XX, nos anos dourados da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada.

 

O Livro-Música “Great Party, Isn’t It?” teve uma grande influência de obras cinematográficas feitas a partir da obra literária de Stephen King e outras pessoas. Mas, devo dizer que o que me motivou a utilizar frases e palavras retirados dos filmes baseados na obra do grande escritor americano foi a versão cinematográfica do livro “Riding The Bullet”, com direção e roteiro de Mick Garris, e que no Brasil teve o título “Montado na Bala”. Eu adorei este filme por questões de ordem pessoal, pois vi nele lembranças da minha infância e juventude. Cheguei mesmo a enviar um e-mail para o próprio Stephen king no qual eu falava do filme Riding The Bullet” e da homenagem feita à pessoa dele com o Livro-Música “Great Party, Isn’t It?” (isso não quer dizer que todas as poesias e músicas estejam ligadas ao citado filme, pois elas têm vida própria e tratam de temas diversos, que nada tem haver com a obra de Stephen King). E assim, faço questão de encerrar este tópico deste texto com as palavras finais daquele filme: “Os Beatles não foram juntos para Toronto em 1969 e nunca mais ficaram juntos. A vida de John Lennon foi tirada por um maníaco. A de George Harrison, pelo cigarro e o câncer. E nunca vivi como artista. Ainda pinto. Porque é isso que faço. Tenho saudades da mamãe. E penso muito nela. Sinto falta daquele tempo do derrame, em 1969... e na época em ela morreu, em 1972, minha vida mudou. Acho que a vida de todos mudou. Parece que nada dura. Mas, a morte... a morte é inevitável. Está sempre lá. Espere na fila pela sua vez. Talvez você a encare de frente, talvez fuja dela. Mas não tem jeito. Diversão é diversão. O que está feito, está feito. Ninguém vive para sempre mas todos brilhamos.”

 

MARABÁ-PA, FEVEREIRO DE 2008.

 

No final do mês de janeiro de 2008, eu e meu gato “Breu” entramos no avião e fomos embora de Santarém, indo para Belém, e depois para Marabá. Chegamos em Marabá, em definitivo, no dia 18 de fevereiro de 2008 e nunca mais saímos da cidade. Gostei da cidade, pois há uma avenida (VP-8) que parece com a Avenida Almirante Barroso em Belém, e me dá a impressão de que, se eu pegar um ônibus, vou chegar até a minha casa na Travessa do Chaco, em Belém. Marabá também lembra Los Angeles/Califórnia-USA por causa dos morros e da iluminação durante a noite.

 

No ano de 2012 uma coisa inusitada aconteceu: consegui comprar, através da Internet, um exemplar original (de 1970) do livreto da estória dos “Quatro Músicos de Bremen”. O livreto (com um disco de vinil/compacto) que eu ganhei em 1970 é considerado a origem mais remota da Editora Ogmios.

 

O WEBSITE www.seaculumobscurum.com repercute nos

Estados Unidos da América (USA). Los Angeles: a Cidade que mais acessou o Website.

 

O website www.seaculumobscurum.com foi criado numa empresa de Santarém-PA, cujo nome era Gota D’Agua (Termo de Compromisso datado de 16 de maio de 2005), e a criação ficou sob a responsabilidade de Cleidival Fernandes, funcionário da empresa, que também era aluno do Curso de Informática da UFPA/Campus Santarém. O domínio “seaculumobscurum.com foi adquirido por mim em maio 2005, e o mesmo foi hospedado na empresa inglesa Hostgold. O website foi inaugurado completamente na Internet em junho de 2005, com quase toda a obra poética, musical e pictórica da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada, além de várias fotografias e de um longo texto com a história completa da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada (de 1966 a 2005). De maio de 2005 a janeiro de 2008, Cleidival Fernandes ficou encarregado da manutenção e atualização do website.

 

Consta no primeiro registro de acesso as seguintes cidades: Santarém-PA, Belém-PA, São Paulo-SP e Brasília-DF, todas cidades brasileiras; Arlington e Lakewood, nos Estados Unidos da América (USA). Mas, logo o acesso foi aumentando, e o website acabou por ser acessado em todos os continentes, principalmente nas Américas (Brasil e Estados Unidos da América-USA) e na Europa Ocidental (principalmente na Alemanha). Porém, o número de acesso foi sempre pequeno, tendo uma média de 250 acessos por mês. O referido website fora inaugurado em com dois idiomas: o principal, que era o idioma português, e o segundo, que era o idioma inglês. A tradução do português para o inglês foi feita por uma Professora do CCAA de Santarém-PA, Luciana Gomes.

 

O Brasil sempre foi o país que mais acessou o website www.seaculumobscurum.com, principalmente as cidades de São Paulo e Rio de janeiro, as quais foram as que mais acesso tiveram no citado website, isso até o ano de 2008. Mas, a partir de junho de 2008, as coisas mudaram: os Estados Unidos da América (USA) passaram a ser o país com o maior registro de acessos, e a cidade de Los Angeles passou a ser a cidade que mais teve acessos no citado website no mundo inteiro. Salvo engano, de 2008 a 2014, poucos foram os meses em que o Brasil superou os Estados Unidos da América (USA) em número de acessos. Várias cidades americanas acessaram o site desde junho de 2005, além de Los Angeles: Washington-D.C., Park Rigde, Seattle, Dallas, Lakewood, San Francisco (Frisco), Dallas, e várias outras passaram a acessar o mesmo, e outras cidades da Califórnia, como Santa Bárbara, Santa Mônica, San Jose e San Diego também tiveram muito acesso. Isso se intensificou a partir de 2008. Eu penso que isto aconteceu porque um fã americano me enviou um e-mail dizendo que havia enviado notícias sobre o website www.seaculumobscurum.com para mais de um milhão de contas de e-mails nos Estados Unidos da América. Assim, eu penso que a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada passou a ter uma certa repercussão nos Estados Unidos da América, ainda que limitada. Depois dos Estados Unidos da América e do Brasil, o país que mais teve número de acessos no referido website foi a Alemanha (várias cidades alemães acessaram o mesmo).

 

Nessa época, a minha caixa de e-mail começou a ficar lotada de e-mails, a maioria vinda dos Estados Unidos da América, todos em inglês. Não que eu não recebesse e-mails antes de 2008, muito pelo contrário. Por mais incrível que possa parecer, embora São Paulo sempre tenha sido a cidade que mais tenha acessado o website até 2008, eu jamais recebi um único e-mail de um admirador brasileiro. Os e-mails vindos dos Estados Unidos da América eram variados: ou eram pessoas vendendo coisas, ou fazendo convites estranhos, ou pedindo Livros e Livros-Música da Editora Ogmios (o que era impossível de ser atendido, já que os trabalhos da Editora Ogmios são feitos de forma artesanal, e não em escala industrial), etc.. A grande maioria destes e-mails eu não cheguei nem a abrir, devido a imensa quantidade enviada.

 

Também nesta época, o acesso do website www.seaculumobscurum.com saltou de 250 acessos por mês para inacreditáveis quase quatro mil acessos mensais, o que foi uma surpresa para mim, já que, tanto a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada como o seu website, não tinham nenhuma propaganda de divulgação. A única propaganda era a presença do próprio website na Internet.

 

Em 2016, tendo em vista todo este interesse americano pela Editora Ogmios, fizemos uma reforma no referido website e o idioma oficial passou a ser o idioma inglês.

 

O WEBSITE www.seaculumobscurum.net

 

Por volta de 2011, acessando o YouTube, eu descobri uma banda de música com o nome de Saeculum Obscurum. Confesso que fiquei extremamente curioso. Ouvi, muito rapidamente, uma música da Banda e até pensei que fosse uma banda cover, ou alguma espécie de homenagem. Porém, depois daquele primeiro contato, verifiquei que se tratava de uma banda de Death Metal, uma variação do Heavy Metal. Logo depois, também descobri, através de informações sobre a tal banda e também através de um texto publicado na Wikipédia, colocado na Internet depois do surgimento do grupo alemão, com texto em língua alemã e em língua inglesa, que a expressão latina “Saeculum Obscurum” dizia respeito a um período da Idade Média em que teria reinado na Igreja Católica uma Papisa, e teria sido um período de escândalos para a Igreja Católica.

 

Como eu já disse no longo texto sobre a história da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada, publicado no website www.seaculumobscurum.com, em 2005, eu tirei a expressão “Seaculum Obscurum” de duas palavras latinas (“Saeculum” e “Obscurum”), que eu vi num livro de gramática latina que, no que eu posso recordar, estavam (as duas palavras) em colunas de palavras diferentes, e depois alterei a palavra “Saeculum” para “Seaculum”, para fazer uma referência a palavra inglesa “Sea” (“mar”, em inglês). Isso ocorreu, provavelmente, por volta do final do ano de 1985, ou início de 1986. Quando eu crie esta expressão (“Seaculum Obscurum”), eu estava me referindo ao Século XX e a toda a mortandade ocorrida nele; um século de guerras e horrores jamais vistos pela humanidade. Portanto, eu não estava me referindo à Idade Média, até porque eu nem sabia que a expressão “Saeculum obscurum” se referia a um período da Idade Média (eu, particularmente, adoro a Idade Média e toda a cultura produzida naquele período da Humanidade).

 

Quando eu crie o website www.seaculumobscurum.com em 2005, não havia na Internet qualquer referência a estas palavras “Saeculum” e “Obscurum” juntas ou como referência à Idade Média, e muito menos o texto da Wikipédia, acima citado. Portanto, estas duas palavras relacionadas à música e à poesia, na Internet, só estavam relacionadas à Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada.

 

Assim, me causou uma grande surpresa quando eu vi as músicas do grupo alemão (o qual parece ter um membro com nome e sobrenome bem brasileiros) no YouTube e também no Facebook.

 

Algum tempo depois, verifiquei o surgimento de duas bandas de Death Metal com o nome “Ogmios”, uma na França e outra no Canadá.

 

Também não lembro de nenhum website ou texto na Internet com o nome “Ogmios” relacionado à música (mas, haviam textos relacionado à poesia e ao deus celta “Ogmios”).

 

De qualquer forma, não tenho nada contra o fato de outras pessoas gostarem destas palavras e colocarem as mesmas como nomes de suas manifestações artísticas. Acho ótimo, já que eu era ridicularizado em Belém do Pará por causa destes nomes, na década de 1980. Mas, deixo aqui uma advertência aos garotos: não há nenhum problema desde que se respeite o espaço de cada um.

 

Quando eu vi o grupo alemão com o nome de “Saeculum Obscurum”, decidi que era melhor atualizar o website www.seaculumobscurum.com, mas, ao invés disso, acabei por criar um novo website na Internet: o www.seaculumobscurum.net. Assim, contratei os serviços de alguns alunos do Curso de Informática da UFPA/Campus Marabá, os quais deram um formato mais moderno ao website original (o website www.seaculumobscurum.com ficou intacto, conforme havia sido planejado por Cledival Fernandes na última modificação de estilo, ocorrida em 2006). O responsável pelo novo website foi, principalmente, o aluno Rogério Carvalho dos Santos, o qual é, até hoje, o responsável pela manutenção dos dois websites.

 

Mas, fora o surgimento do novo website, não houve nenhuma movimentação em relação à Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada desde 2008. Isso até 2015.

 

AS COMEMORAÇÕES DOS 30 ANOS DA EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)/GRAVADORA ARTE DEGENERADA.

 

Em 2014, a Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada completou 30 anos de existência. Não houve nenhum evento comemorativo naquele ano por motivos de ordem pessoal. Mas, em 2015 começamos a realizar eventos comemorativos: duas apresentações/exposições no Projeto Cultural “Namorada das Artes”, Programa de Extensão da PROEX/UNIFESSPA (Pró-Reitoria de Extensão), nos dias 21 de agosto e 28 de outubro de 2015, exposições com banners que traziam fotos, poemas, pinturas e textos escritos sobre a Editora Ogmios, e lançamento de uma Camisa Oficial.

 

Em 2016, continuamos com as comemorações: lançamento de oito músicas/vídeos no YouTube, criação de um Blog (com vários textos sobre os poemas/música que foram lançados no YouTube), abertura de páginas no Facebook, no YouTube, no Twitter, no LinkedIn, no Instagram e no Wikipédia, homenagens feitas no Facebook para músicos e bandas de música que influenciaram a Editora Ogmios ao longo de 43 anos (desde 1973), criação de Grupos Fechados sobre assuntos relativos à Editora Ogmios (poesia, música, pintura, cinema e ufologia). E finalizamos tudo com um texto comemorativo, divulgado através de e-mail. Desde 2005, quando do lançamento do website seaculumobscurum.com e dos Livros-Música enviados a diversas autoridades, a Editora Ogmios não tinha tanta divulgação. Porém, o ano de 2016 foi um ano pesado e que merece ser esquecido. Agora, vamos comentar brevemente as duas apresentações no Projeto Cultura “Namoradas das Artes”, ocorridas no ano de 2015, e a inserção da Editora Ogmios em outras mídias.

 

PRIMEIRA APRESENÇÃO NO EVENTO “NAMORADA DAS ARTES”/PROEX-UNIFESSPA – 21 DE AGOSTO DE 2015.

 

De início, para comemorar os 30 anos da EDITORA OGMIOS (SEACULUM OBSCURUM)/GRAVADORA ARTE DEGENERADA (1984/2014), fizemos duas Exposições/Apresentações no Campus I da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará-UNIFESSPA, nos dias 21 de agosto e 28 de outubro de 2015, no evento cultural denominado de “Namorada das Artes”, idealizado e promovido pelo Professor Evandro Medeiros, da Pró-Reitoria de Extensão-PROEX, da UNIFESSPA. Assim, agradecemos aos convites do Professor Evandro Medeiros. Na verdade, nem pensávamos em fazer tais eventos. Mas, na manhã do dia 21 de agosto de 2015 eu vi um vídeo dos Beatles na Internet tocando a música “If I Needed Someone” (composição de George Harrison, do álbum Rubber Soul, de dezembro de 1965) no Candlestick Park (San Francisco, Califórnia, USA), no que foi a última apresentação ao vivo dos Beatles (29 de agosto de 1966). O vídeo era constituído de fotos e filmes do show, indo da chegada à saída dos Beatles do local da apresentação. Eu nunca tinha ouvido “If I Needed Someone” ao vivo, e achei aquilo tão fantástico que resolvi tocar no evento do Prof. Evandro. Imediatamente, comprei cordas para a guitarra e o violão, e fiz um breve ensaio... e tudo foi feito de improviso, como é a tradição na Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada. Tudo Arte Degenerada.

 

Na primeira Exposição/Apresentação, realizada em 21 de agosto de 2015, apresentamos somente quatro músicas:

 

- “The Zodiac” (do Livro-Música “Great Party, Isn’t it?”, janeiro/2008, música composta em 2007 – último trabalho da Editora Ogmios);

 

- “Abertura - O Princípio (Uma Dança Cerimonial - Parte I)” (do Livro-Música “Iluminuras - As Iluminações que Rimbaud não Iluminou no Jardim das Bonecas Manchadas de Sangue”, de outubro/1986);

 

- “Concerto para os Pássaros” (música composta em 1983, e gravada em 1993 para o Livro-Música “O Último Círculo de Pedras” – coletânea, com os melhores projetos musicais feitos por mim entre 1981 e 1988);

 

- “Rock and Roll/ Ela Brilha como Mil Sóis - Partes I e II” (do Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas”, de setembro/2002 – julho/2005).

 

Todas estas músicas são de minha autoria.

 

Nesta primeira apresentação realizada na UNIFESSPA, pela primeira vez na história da Editora Ogmios tive a colaboração de dois músicos extras (ou seja, não houve ensaio prévio, foi tudo feito no momento da apresentação): o violonista/guitarrista Conrado Reche Graff e o baterista Felipe Ramos. Na verdade, eu sempre uso a bateria do pedal de guitarra, mas, naquele dia, deixei o Felipe tocar bateria na Editora Ogmios.

 

SEGUNDA APRESENÇÃO/EXPOSIÇÃO NO EVENTO “NAMORADA DAS ARTES”/PROEX-UNIFESSPA – 28 DE OUTUBRO DE 2015.

 

A segunda Exposição/Apresentação comemorativa dos 30 anos, também realizada no Campus I da UNIFESSPA, em 28 de outubro de 2015, foi muito mais elaborada.

 

Além das músicas, fizemos exposição de textos, fotos, pinturas e poemas da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada através de banners.

 

O banner principal tinha uma fotografia de soldados americanos da 1ª Guerra Mundial, e foi a imagem símbolo dos 30 anos da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada (1984/2014) e da apresentação/exposição, imagem esta que também foi inserida na camisa comemorativa dos 30 anos da SEACULUM OBSCURUM, também lançada no evento naquele dia (trata-se de uma homenagem aos mortos da 1ª Guerra Mundial – 1914/1918), já que em 2014 fez 100 anos da 1ª Guerra. Outro banner continha os textos com um resumo da história da Editora Ogmios e fotos minhas com meu violão Del Vecchio (que está comigo desde 1981 e no qual fiz quase todas as minhas músicas) e com a guitarra Gibson Les Paul (que comprei em 2005, em Santarém, e na qual compus a música “The Zodiac” e outras mais) e outros instrumentos musicais com que fiz e gravei minhas músicas (o violão Del Vecchio, o teclado Yamaha, o violino, gaitas, flautas, prato, etc.). Havia também uma pintura feita em 2001, da série “Vermelho”.

 

Os outros banners continham outras pinturas da série “Vermelho”, da série “Fadas” (que são pinturas/colagens, com desenhos tirados de revistas, também de 2002), a capa do livro “As Flores”, de 1985, pinturas feitas para o Livro-Música “Winona e as Cadeiras de Rodas” de 2005 (com fotos dos índios americanos Cavalo Doido e Touro Sentado), e uma página com desenho do Livro-Música “O Tecelão de Paisagens” de 1986. Havia também um banner exclusivo que continha o poema original “Lírio” e a pintura referente ao mesmo poema, tudo feito em 1985.

 

Com relação à música, foram tocadas as seguintes peças:

 

- “The Zodiac” (2007);

 

- “Abertura - O Princípio (Uma Dança Cerimonial - Parte I)” (1983/1986);

 

- “Concerto para os Pássaros” (1983);

 

- “Lisa Tocando seu Violino em Meu Deserto” (do Livro-Música “Guirlanda de Flores Sangrentas”, de fevereiro/1987, erroneamente anunciada por mim como “Prelúdio - Monna em Seu Leito de Morte”, que é outra música do mesmo Livro-Música);

 

- “Snoopy a Vida é um Circo” (música composta em 1986 e inserida em 1993 no Livro-Música “O Último Círculo de Pedras” – coletânea, 1981/1988);

 

- “Concerto em Dó Maior” (música composta em 1981, e gravada em 1993 para o Livro-Música “O Último Círculo de Pedras” – coletânea, 1981/1988 – essa foi a primeira peça musical composta por mim em minha vida).

 

Para encerrar a apresentação musical, toquei duas músicas que não são de minha autoria:

 

- “Blackbird” (John Lennon/Paul McCartney, The Beatles, “White Album/Álbum Branco”, 1968);

 

- “Stairway to Heaven” (Jimi Page/Robert Plant, Led Zeppelin, Led Zeppelin IV, 1971).

 

Exceto “The Zodiac”, que foi tocada com guitarra, todas as outras músicas foram tocadas com violão no evento (novos violão e guitarra, já que o velho Del Vecchio/violão e a velha Gibson Les Paul/guitarra já estão aposentados em lugar de destaque em minha residência). Também exceto “The Zodiac” (2007), todas as outras músicas são da década 1980 do século passado.

 

Portanto, foi uma apresentação mais acústica do que a apresentação do dia 21 de agosto, que foi feita inteiramente com a guitarra. Mais uma vez tive a presença do baterista Felipe Ramos, juntamente com a guitarrista Savannah Lemos (mais uma vez, tudo foi feito de improviso, sem ensaio prévio). Foi a primeira vez na história que uma mulher tocou na Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada. Assim, fizemos uma verdadeira exposição “Arte Degenerada” no dia 28 de outubro de 2015.

 

Com relação ao poema/música “The Zodiac”, esta foi a única música a ser tocada nas três únicas apresentações da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada, que ocorreram em Santarém (2007) e Marabá (2015), em 32 anos de existência do projeto, e foi a única música da Editora Ogmios (Seaculum Obscurum)/Gravadora Arte Degenerada que foi simultaneamente gravada e filmada em 2007, como já dissemos antes.

 

Já com relação ao poema/música “Snoopy A Vida é um Circo”, a música e o título foram um acidente. Eu tinha composto a música em 1984 ou 1985. Então gravei a mesma numa fita cassete. Eu adoro os desenhos do Snoopy, e no final do episódio “Snoopy A Vida é um Circo” há uma música engraçada, que parece tocada com aqueles instrumentos antigos que haviam nos circos, os realejos. Pois bem, certo dia, em 1986, eu gravei exatamente a citada música do episódio na mesma fita cassete em que estava gravado a minha música, o que acabou por cortar parte na minha música. Porém, quando eu ouvi aquilo, notei que a música que eu fiz se encaixava perfeitamente na música do final do episódio. Por isso deixei tudo como estava e anos depois, em 1993, inseri a música no Livro-Música “O Último Círculo de Pedras” – coletânea, 1981/1988. Em 2001 fiz o poema para a música. Eu sempre tive um certo dom para fazer bruxarias musicais. Por exemplo, fazer o velho Del Vecchio/Violão soar como se fosse um órgão ou um baixo, e muitas outras feitiçarias musicais. Fiz coisas que até hoje, quando escuto, não entendo como consegui fazer tal som. Os interessados podem ouvir a versão original de 1986 nos websites da Editora Ogmios.

 

DIVULGAÇÃO NA MÍDIA EM GERAL

 

Adentramos no ano de 2016 e novas homenagens e eventos foram realizados para comemorar os 30 anos da Editora Ogmios. Neste ano, passamos a inserir a Editora Ogmios em várias mídias, além dos dois websites. Assim, abrimos uma página no Facebook (“Marco Rosário” – “Ogmos Seaculum Obscurum”), criamos uma conta no YouTube (“Ogmios Seaculum Obscurum”) aonde já publicamos oito das mais de quarenta músicas da Editora Ogmios, compostas entre 1981 e 2008, e também criamos um blog (“blogspot – Ogmios Seaculum Obscurum”). As músicas (com poemas) que foram publicadas no YouTube foram divulgadas através de e-mails para pessoas conhecidas e também passamos a publicá-las e divulgá-las no Facebook. Mais recentemente, passamos a fazer uma série de homenagens a músicos e grupos de música que influenciaram a Editora Ogmios na nossa página no Facebook, de 1973 a 2014 (homenagens estas concluídas em novembro de 2016). Também abrimos espaço no Twitter (“Ogmios Seaculum”), no Instagram (“Ogmios – Seaculum Obscurum”) e no LinkedIn (“Ogmios Seaculum”). Mais recentemente, também abrimos uma página no Wikipédia (“Ogmios Seaculum Obscurum”).

 

Em novembro de 2016, criamos na nossa página no Facebook uma série de grupos fechados envolvendo poesia (“T. S. Eliot”, “Ezra Pound”, “William Carlos Williams”, “William Butler Yeats”, “William Blake”, “Sylvia Plath/Dylan Thomas”, “Poesia Maldita/Rimbaud/Ducasse e Outros”), música (“Ogmios Seaculum Obscurum-Homenagens Musicais – trata-se da continuação das homenagens aos músicos, compositores e bandas que influenciaram a Editora Ogmios, só que agora em grupo fechado), pintura (“Hieronymus Bosch – Pintura”) e cinema, sendo que todos esses grupos tem relação direta com a Editora Ogmios.

 

Ainda no Facebook, passamos a integrar vários grupos fechados e abertos que tem como tema arte, música, poesia, etc., sendo que passamos a publicar nestes grupos os trabalhos da Editora Ogmios, desta forma divulgando ainda mais nossos trabalhos nos Estados Unidos da América e Europa (e por tabela, no resto do mundo).

 

NOVOS LIVROS-MÚSICA (2017): “MÚSICA PARA OS CONTOS FALDUM, AUGUSTO E HANNES, DE HERMANN HESSE” E “OS ÚLTIMOS PENSAMENTOS, SONHOS E PESADELOS DA BRUXA DO OESTE”.

 

No ano de 2017 esperamos criar, elaborar e produzir mais dois Livros-Música. O primeiro deles é uma promessa antiga: fazer três músicas para três contos do escritor alemão Hermann Hesse, que eu simplesmente adoro (“Faldum”, “Augusto” e “Hannes”). Infelizmente, a tradução em português dos citados contos não poderão ser inseridas nos websites da Editora Ogmios, pois necessitam de autorização da Editora responsável pela publicação dos mesmos em língua portuguesa.

 

O outro Livro-Música será o primeiro feito em Marabá-PA e se chamará “Os Últimos Pensamentos, Sonhos e Pesadelos da Bruxa do Oeste”. Eu já fiz mais de uma centena de versos e frases soltas para compor os poemas deste novo Livro-Música, isso desde que cheguei em Marabá, em 2008. Será um Livro-Música polêmico, com uma poesia e uma música revolucionárias.

 

CONTOS DE FADAS E A ESTÓRIA “O HOMEM QUE NÃO TINHA HISTÓRIA PARA CONTAR”.

 

Para concluir este texto, resolvi inserir um texto sobre um conto de fadas da Irlanda, pelo qual tenho um grande apreço. Espero que todos gostem do mesmo. É sobre a história de um homem que não tinha estórias (contos de fadas) para contar.

 

Um homem chamado Brian ganhava a vida cortando hastes e tecendo cestos para vender. Certo ano tornou-se difícil encontrar as varetas apropriadas à confecção dos renomados cestos que faziam sua fama. Eram tempos difíceis para Brian e ele já não sabia o que fazer.

 

Acontece que, bem nas imediações do vilarejo onde vivia, existia um vale no qual vicejam hastes deslumbrantes. Mas ninguém ousava cortá-las, pois acreditava-se que o vale era habitado por fadas. Brian não dava crédito a tais crendices, porém, mesmo assim, as respeitava.

 

Como seu negócio ia de mal a pior, Brian decidiu que o vale das fadas seria a única alternativa que lhe restava. Levantou cedo na manhã seguinte, dirigiu-se ao vale e em pouquíssimo tempo extraiu dois magníficos feixes de varinhas. No instante em que os amarrava e se preparava para sair, formou-se um denso nevoeiro ao seu redor. Com medo de se mexer, sentou e esperou a névoa se dissipar. Mas ela estava tão cerrada e escura que ele já não conseguia identificar um palmo diante do nariz.

 

Receoso de esperar sequer por mais um minuto, decidiu confiar na sorte e tentar achar o caminho de volta. Perambulou pelo vale sem nada enxergar até que percebeu uma luz ao longe e caminhou em sua direção. Não demorou muito e chegou a uma grande casa. De sua porta aberta e das janelas emanava uma luz viva.

 

Brian enfiou a cabeça porta adentro e avistou um homem e uma mulher idosos sentados próximos a uma lareira. Eles sorriram e convidaram-no a aproximar-se do fogo. No decorrer da conversa, o homem solicitou a Brian que lhe narrasse um conto de fadas.

 

“ - Isto é algo que jamais fiz em minha vida – replicou Brian. – Não acredito em fadas e não conheço histórias deste tipo.

 

“ – Bem – disse a mulher - , então traga pelo menos um pouco de água para quando sentir sede.

 

Brian pegou um balde e caminhou até o poço. Ao tentar içá-lo, derrubou-o acidentalmente no fundo do poço. Inclinou-se para apanhá-lo, perdeu o equilíbrio e escorregou para dentro dele. Foi caindo mais e mais até aterrissar suavemente no fundo. Mas não havia uma gota d’água sequer no fundo do poço – apenas uma luz. Ao mover-se em direção a ela encontrou uma casa ainda maior. Em seu interior um grupo de pessoas se reuniam para um festejo. Uma linda garota saiu da casa e cumprimentou Brian.

 

“ – É maravilhoso que você tenha chegado logo agora, Brian! – exclamou ela. Estávamos a ponto de procurar um exímio violinista para iniciar o nosso baile. E então você apareceu: o melhor violinista de toda a Irlanda!

 

“ – Isto é algo que jamais fiz em minha vida. Não entendo nada de violinos, nem sei tocá-los.

 

“ – Não me faça passar por mentirosa – disse a linda garota, e com um sorriso passou às suas mãos um violino e um arco.

 

Brian olhou bem para o instrumento, levantou-o à altura do queixo e começou a tocar. Os convidados riam e dançavam entusiasmados confessando que jamais tinham ouvido alguém tocar tão maravilhosamente quanto ele.

 

Brian sorria satisfeito, espantado com a recém-descoberta habilidade, quando um homem entrou no recinto e anunciou que estava procurando um padre para rezar uma missa.

 

A bela donzela sorriu novamente e disse: - Bem, você já pode parar de procurar, pois temos aqui conosco o Brian, que é o melhor cura de toda a Irlanda.

 

Mas nunca fiz isso em minha vida. Não entendo nada de missas e padres – protestou Brian.

 

“ – Não me faça passar por mentirosa – respondeu-lhe a garota.

 

E quando Brian se deu conta, já estava diante de um altar, vestindo uma batina, rezando a missa. E toda a congregação exclamava que ninguém no mundo celebrava uma missa tão bem quanto Brian.

 

Quando Brian saiu da igreja, a jovem garota o aguardava. A seu lado estavam quatro homens segurando um caixão. Três deles eram baixinhos e o quarto era bem alto, de modo que o caixão estava nitidamente inclinado.

 

Um dos homens advertiu: - precisamos encontrar logo um médico que encurte as pernas desse grandalhão para que possamos nos nivelar e prosseguir com o cortejo.

 

“ – Então vocês já acharam, pois Brian é o melhor médico de toda a Irlanda – exclamou a garota.

 

Brian protestou mais uma vez: - Eu nunca fiz isso em toda minha vida. Não entendo nada de medicina.

 

“ – Não me faça passar por mentirosa – riu a garota e entregou a Brian uma valise cirúrgica.

 

Brian pegou um instrumento cortante na maleta e serrou as pernas do homem logo abaixo do joelho. Em seguida, removeu um pedaço da panturrilha de cada uma das pernas e costurou-as de volta. O grandalhão ficou da mesma altura dos outros três, e Brian, perplexo com o que acabara de fazer.

 

Os quatro homens ergueram o caixão e seguiram com o cortejo. A garota os acompanhou, mas antes voltou-se para Brian e acenou-lhe com a mão, convidando-o a juntar-se à comitiva. Brian correu para tentar alcançá-los, mas não percebeu um buraco no caminho. Tropeçou e caiu, mais e mais, até aterrissar suavemente no gramado ao redor do poço próximo à casa do casal de anciães.

 

Retomou o fôlego e encheu o balde de água. O homem e a mulher estavam sentados ali junto ao fogo exatamente como os havia deixado. Era como se ele nunca tivesse saído dali. Pôs o balde num canto e sentou-se entre os dois.

 

“ – Então, Brian – disse o ancião - , você pode nos narrar um conto de fadas?

 

“ – Posso sim – respondeu suavemente Brian. – Eu sou um homem que definitivamente acredita em fadas e tenho uma boa história para contar.”

 

Dedicado para Ana Preta (1978-1989), Preto (1983-1989) e Olga (1909-1998).

 

 

 

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